Pedro Tamen [1934 – 2021]


Um Fado: Palavras Minhas

Palavras que disseste e já não dizes,
palavras como um sol que me queimava,
olhos loucos de um vento que soprava
em olhos que eram meus, e mais felizes.

Palavras que disseste e que diziam
segredos que eram lentas madrugadas,
promessas imperfeitas, murmuradas
enquanto os nossos beijos permitiam.

Palavras que dizias, sem sentido,
sem as quereres, mas só porque eram elas
que traziam a calma das estrelas
à noite que assomava ao meu ouvido…

Palavras que não dizes, nem são tuas,
que morreram, que em ti já não existem
— que são minhas, só minhas, pois persistem
na memória que arrasto pelas ruas.

in “Tábua das Matérias” – Poesia 1956-1991

 

«Pedro Tamen nasceu em Lisboa, em 1934 e estudou Direito na Universidade de Lisboa.»

«Entre 1958 e 1975 foi director da Editora Moraes e depois, até 2000 (data em que se retirou da actividade profissional), administrador da Fundação Calouste Gulbenkian.»

«Foi também dirigente cine-clubista, professor do ensino secundário e director-adjunto de uma revista de actualidades.»

«Fez crítica literária no semanário Expresso.»

«Foi presidente do P.E.N. Clube Português (1987-90).»

«Foi membro da Direcção e presidente da Assembleia Geral da Associação Portuguesa de Escritores.»

«Tem poemas traduzidos e publicados em francês, inglês, espanhol, italiano, alemão, neerlandês, sueco, húngaro, romeno, checo, eslovaco, búlgaro e letão.»

«Foi duas vezes finalista do Prémio Europeu de Tradução.»

«Traduziu recentemente À la Recherche du temps perdu, de Marcel Proust.»

«A sua obra poética, iniciada em 1956 com Poema para Todos os Dias (Ed. do Autor, Lisboa) encontra-se reunida em Retábulo das Matérias (Gótica, Lisboa, 2001). Posteriormente,publicou os livros Analogia e Dedos (2006) O Livro do Sapateiro (2010) e Um Teatro às Escuras (2011). Em 1999 foi publicado um disco-antologia intitulado Escrita Redita (poemas ditos por Luís Lucas; Ed. Presença / Casa Fernando Pessoa).»

«À sua poesia foram atribuídos o Prémio D. Dinis (1981), o Prémio da Crítica (1991), o Grande Prémio Inapa de Poesia (1991), o Prémio Nicola (1997), o Prémio Bordalo da Imprensa (2000), o Prémio do PEN Clube (2000), o Prémio Luís Miguel Nava (2007) e o Prémio Inês de Castro (2007).»

 


Nova edição do “Vocabulário Ortográfico” da língua brasileira

Em três notícias, de três proveniências, a mesma “novidade”: o Brasil acaba de rever o “vocabulário ortográfico” da “língua”; segundo afiançam os próprios, a começar pelo sumo pontífice da santa madre igreja da língua universáu, D. Bechara I, esta nova edição do seu VOLP “reflete” a “atualização”… da Língua Portuguesa. Assim, de chofre. Como um escarro.

Ou seja, em jeito de conclusão (dos tipos que adoram acertar com um trapo encharcado na cara dos portugueses), esta é a nova “terminologia” do “português” que o Brasil autoriza. Daí a “exigência”, como condição sine qua non, que os oito Estados da CPLB (Comunidade de Estados de Língua Brasileira) publiquem o seu próprio Vocabulário Ortográfico da Língua Brasileira (VOLB). Sem problemas de dinheiro ou outras minudências, claro: Bechara Y sus muchachos, os “cara” da ABL, terão imenso gosto em enviar como de costume as facturas para Lisboa. O Brasil manda, Portugal paga.

Por falar em pagar, em dinheiro e em outras “minudências” sonantes, note-se o carácter “desprendido” e “altruísta” das publicações que serviram ao “povinho” da “terrinha” a “estrondosa”, panfletária “notícia”.

O primeiro pasquim electrónico — uma coisa baptizada como “Exame – Future of Money” — versa exclusivamente sobre negócios, dinheiro, bolsas de valores, cotações, transacções empresariais e industriais, toda a sorte de vigarices por grosso e por atacado. Daí, portanto, naturalmente, a principal componente do título: “money”. Como se pode ver, desde que mantendo algum afastamento higiénico, em Future of Money | Blockchain.

Também sendo conveniente conservar as distâncias — e, neste caso, para prevenir quaisquer veleidades dos alucinados imperialistas, empunhando um cajado mental — na “notícia” da ALB, um sítio pessimamente frequentado, onde pára o Bechara, tenta-se como de costume fingir que o VOLP não é uma espécie de manifesto propagandístico do AO90. É lá agora! O conjunto das palavras “usadas pelos brasileiros não é a tal “língua universáu” nem nada e o “trabalho” também não é financiado nem nada, onde já se viu, os empresários-políticos e os políticos-empresários (zucas e tugas) são de uma transparência e hombridade que ele só visto, ui, ricos meninos. Enfim, dinheiro; é sobre o vil metal e por causa dele que aquela sambística agremiação lança agora a sua nova cartilha, de analfabetos para analfabetos.

Por fim, uma terceira publicação da área financeira, a “Empresas & Negócios” (um nome assim nem de propósito), faz igualmente eco da rebrilhante “novidade” reproduzindo um despacho de alguma agência noticiosa (isto é, propagandística) que foi replicado em dezenas de outros pasquins virtuais e em folhas-de-couve reais.

O assalto às ex-colónias portuguesas, a pretexto de uma “comunidade de Estados” fictícia e sob o disfarce de um “acordo ortográfico” que de acordo nada tem e de ortográfico muito menos, fica assim oficializado — com a pressurosa colaboração de alguns mercenários portugueses — através de um cheque. Careca, bem entendido.

 

ABL inclui ‘criptomoeda’ no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa | Future of Money

Academia Brasileira de Letras anuncia atualização do VOLP e inclui novos verbetes à lista; além de ‘criptomoeda’, ‘lockdown’, ‘bullying’ e vários outros entram para publicação

Por Cointelegraph Brasil
exame.com
Bitcoin Criptomoedas Dicas de Português Gramática
Publicado em: 26/07/202

PARIS, FRANCE – FEBRUARY 12: In this photo illustration, a visual representation of the digital Cryptocurrency, Bitcoin is displayed on February 12, 2020 in Paris, France. The price of Bitcoin is rising and has once again passed above the very symbolic bar of 10,000 US dollars. (Photo by Chesnot/Getty Images) Crypto Week (Chesnot/Getty Images)

 

A Academia Brasileira de Letras (ABL), instituição responsável por preservar as normas da língua portuguesa, anunciou a atualização do Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (VOLP) e a inclusão do termo “criptomoeda” entre os mais de 382 mil verbetes da lista.

O VOLP é um levantamento de palavras existentes na língua portuguesa, com indicação da sua grafia correta. A sexta edição do VOLP está disponível para consulta online, no site da Academia, e também pelo aplicativo oficial do levantamento para smartphones. Essa é a primeira atualização da publicação desde 2009.

A Comissão de Lexicologia e Lexicografia da ABL, presidida por Evanildo Bechara, vem reunindo novos vocábulos colhidos em textos literários, científicos e jornalísticos ou recebidos como sugestão pelos usuários do VOLP.

Ainda segundo a ABL, a obra foi atualizada com o objetivo de oferecer ao público uma edição em dia com a evolução da língua, de modo a refletir as mudanças da sociedade.

Além de “criptomoeda”, “telemedicina”, “ciberataque”, “judicialização”, “covid-19”, “pós-verdade”, “negacionismo”, “necropolítica”, “gentrificação” e “ciclofaixa” foram alguns outros verbetes acrescentados ao VOLP em sua atualização mais recente. Também foram registrados novos estrangeirismos como “botox”, “bullying”, “compliance”, “crossfit”, “home office”, “lockdown”, “podcast” e “emoji”.

De acordo com a ABL, muitos dos acréscimos se referem a termos oriundos do desenvolvimento científico e tecnológico, do contexto da pandemia do novo coronavírus, do registro mais abrangente de nomes de povos indígenas, assim como de termos técnicos das diversas áreas do conhecimento e novos vocábulos de uso comum, sempre de acordo com os critérios de formação de palavras da língua-padrão.

Com 382 mil entradas, o novo Volp tem mil palavras novas, além de correções e informações complementares nos verbetes, como acréscimos de ortoépia (pronúncia correta), variadas possibilidades de plural e, em alguns casos, significados diversos para palavras que têm a mesma grafia ou mesma pronúncia (homonímia) ou grafia e pronúncia parecidas (paronímia), visando desfazer dúvidas e ambiguidades.

[Transcrição integral]

Academia Brasileira de Letras lança nova edição online do Volp

Vocabulário contará com 1 mil palavras novas

 

Publicado em 24/07/2021
Por Alana Gandra – Repórter da Agência Brasil
Rio de Janeiro

 

Criptomoeda, feminicídio, homoparental, infodemia e sororidade. O que essas palavras têm em comum? Além de serem usadas pelos brasileiros, elas vão constar, pela primeira vez, no Vocabulário Ortográfico da Língua Portuguesa (Volp), da Academia Brasileira de Letras.

A sexta edição do Volp está disponível para consulta online, no site da academia. O conteúdo pode ser acessado também pelo aplicativo oficial do Volp (disponível no Google Play e na App Store). Essa é a primeira atualização da publicação desde a 5ª edição, lançada em 2009.
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Priberam: em Português

Daquela que é, na minha opinião, a melhor ferramenta do género, absolutamente indispensável para quem trabalha com a Língua Portuguesa, ou seja, toda a gente que sabe ler e escrever em Português, apenas há a esperar que a equipa da Priberam não tenha estragado nada com esta nova versão, nem no corrector ortográfico e sintáctico FLIP (programa e utilitário) nem no dicionário online.

Parece que não. Corrector e dicionário continuam intactos e, portanto, imunes à brasileirização compulsiva que já vai infectando os programas e as plataformas da concorrência, nesta incluindo um “serviço” financiado pelo Governo que está convictamente assimilado, ao serviço da terraplanagem brasileira: refiro-me ao tremendo barrete que dá pelo nome de “ciberdúvidas”. Ora, a Priberam também disponibiliza, além do corrector, do dicionário e de diversos outros auxiliares da escrita, um verdadeiro serviço de “Dúvidas Linguísticas”.

Enfim. Por uma vez sem exemplo, aqui fica a sugestão — inteiramente grátis, é claro, que ninguém me encomendou frete algum — já não apenas de uma ferramenta única mas de uma caixa de ferramentas inteira, daquelas à moda antiga, sólida, em chapa e com pegas de ferro, pronta para resistir sem amolgadelas ou sequer riscos a quaisquer pancadas, marteladas e pontapés na gramática. Estamos todos fartos de porcarias tipo “loja do chinês” e de plástico moldável em tretas infantis enjorcadas por cabecinhas cheias de… enfim, digamos, borracha.

Este é todo um trabalho sério, escorreito, limpo e transparente, obra de portugueses competentes, e por isso não será exagero algum saudar ambos, os trabalhadores do cérebro e a empresa que os seleccionou e emprega: parabéns, mas que luxo!

 

Dicionário Priberam da Língua Portuguesa

O Dicionário Priberam da Língua Portuguesa (DPLP) é um dicionário online de português. Compreende o vocabulário geral e os termos das principais áreas científicas e técnicas. O DPLP contém informação sobre as diferenças ortográficas e de uso entre o português europeu e o português do Brasil. O dicionário online apresenta funções avançadas de consulta e pesquisa assentes na plataforma lexicográfica da Priberam. Inclui ainda ligação para os auxiliares de tradução do FLiP (espanhol, francês e inglês).

O DPLP é um dicionário online de consulta gratuita. O seu conteúdo é assegurado por uma equipa de linguistas, estando em constante actualização e melhoramento.

A Priberam agradece desde já todos os comentários e sugestões dos utilizadores do dicionário online. A informação será tida em conta pela equipa de linguistas. Todos os comentários devem ser enviados para dicionario@priberam.pt.

O DPLP e o novo Acordo Ortográfico

O DPLP apresenta-se em duas versões. Por um lado, uma redigida na norma europeia do português, sem e com as alterações gráficas previstas pelo Acordo Ortográfico de 1990. Por outro, uma versão redigida na norma brasileira do português, com e sem as alterações previstas pelo novo Acordo Ortográfico.

Na secção Como consultar, cada uma destas opções de pesquisa no dicionário online é descrita pormenorizadamente.

Para mais informações sobre o Acordo Ortográfico, consulte a secção Acordo Ortográfico no site do FLiP.

[…]

[“site” da Priberam]

Flip 11: nova versão do corrector ortográfico da Priberam para quem leva o Português a sério

TekGenius
Marco Trigo

Depois de alguns anos de espera, a Priberam lançou o FLiP 11, a nova versão do seu conceituado corrector ortográfico, e que chega com algumas novidades. Acima de tudo, chega com um foco muito forte na exactidão e nos glossários científicos, para se distinguir dos dicionários generalistas.

A questão que se coloca à Priberam é que, nos últimos anos, generalizaram-se os dicionários generalistas que encontramos nos telemóveis, nos browsers e, principalmente no Microsoft Office, que continua a ser uma ferramenta fundamental em muitas empresas. Mas, como a Priberam destaca, embora estes dicionários generalistas sejam suficientes para o cidadão comum, a Microsoft optou por um caminho peculiar com revisão pré ou pós acordo ortográfico, e também uma mista. O resultado é que muitas grafias erradas acabam por ficar nos nossos textos.

Não foi sempre assim. A partir de 2001 e até ao Office 2016, a Priberam e as diversas versões do FLiP foram os parceiros da correcção ortográfica do Microsoft Word.

A apresentação à imprensa, que contou com Carlos Amaral, CEO da Priberam, e com a linguista Helena Figueira, focou este ponto, mostrando amplos exemplos de grafias incorrectas aceites pela Microsoft e não pelo FLiP.

Um ponto forte do FLiP 11 é também a integração de dicionários temáticos, com uma grande riqueza de termos específicos das áreas científicas, uma lacuna ainda gritante no Office. Graças a estes dicionários temáticos, o FLiP é um facilitador da escrita científica, reconhecendo termos que para o Office (e outros) serão apenas erros ortográficos. O exemplo citado é bastante claro: para o FLiP, “cometário” refere-se a um cometa, mas para o Office é apenas um erro ortográfico em “comentário”.

Para o académico, o FLiP 11 tem então uma dupla vantagem: não só não lhe enche o ecrã de palavras sublinhadas, como também não o induz em erro, corrigindo falsos positivos.

O FLiP 11 tem também uma melhor compartimentalização das ortografias pré e pós Acordo Ortográfico e uma capacidade melhorada de correcção contextual da ortografia. Conta, além do mais, com dicionários para todos os países Lusófonos e é compatível não só com o Microsoft Office, mas ferramentas da Adobe ou Open Office e ainda é possível utilizá-lo como plugin para o WordPress. Estas aplicações tiram todas proveito não só das ferramentas correctivas (tanto ortográficas, quanto sintácticas e estilísticas), mas também dos dicionários Priberam e do conjugador de verbos.

[…]

Priberam anuncia o FLiP 11 com foco na universalidade

noticiasetecnologia.com

A Priberam anunciou o novo FLiP 11, a décima primeira versão do pacote de ferramentas de revisão e auxílio à escrita da empresa portuguesa, conhecida pelo seu Dicionário. Disponível apenas para Windows, é totalmente compatível com o Microsoft Office 2019 e, a partir desta versão, e deixa de haver um produto diferente para o mercado brasileiro – ou seja, este é um FLiP universal.
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Aniversário fúnebre

Terminou aquela insuportável cerimónia fúnebre e, do cadáver adiado, em câmara ardente durante dois dias, sobraram pela 13.ª vez apenas os despojos do costume: discursos ocos de alguns convivas, os lugares-comuns rituais, com especial destaque para as baboseiras proferidas pelo primeiro-ministro António Costa e pelo Presidente Marcelo, e, para findar com um remate sinistro o geral vazio de ideias e a total ausência de princípios, foi oficializada a entrega das riquezas naturais de Angola aos interesses económicos do Brasil; o mesmo que sucederá, já de seguida, a Moçambique e a qualquer das outras ex-colónias portuguesas onde, por mero acidente da fortuna, para tremendo azar dos locais, porventura sejam descobertos filões de ouro, diamantes, petróleo, gás, pedras preciosas ou até madeiras exóticas, terras para cultura intensiva, mão-de-obra barata…

Na verdade, esta era de ultra-capitalismo — feroz, selvagem, virulento — ficará para a História do Esquecimento como sendo aquela em que a espécie humana ultrapassou, talvez irreversivelmente, a barreira da sua própria condição: o ser-humano deixará para a posteridade uma mole de gente indistinta, massas inertes infinitamente replicadas, peças de uma gigantesca máquina que sabe o preço de tudo e não conhece o valor de nada.

No artigo que se segue um cronista — português, logo, minimamente alfabetizado — irrita-se muito justamente com a aniversariante organização brasileira (paga, com magnanimidade, pelos impostos dos portugueses) e atira-se às canelas, em sentido figurado, note-se, do também ele optimista irritante Costa e do ainda mais irritante Marcelo, o Presidente-Rei que ficará para os anais com o cognome de O Baril.

Além de algumas preciosas (e tenebrosas) revelações, o autor utiliza (e bem) a Guiné Equatorial do ditador sanguinário Obiang como sendo um (ou o) problema fulcral da Comunidade dos Países de Língua Oficial brasileira. Pois sim, vale pela intenção, mas não, esse é o menor dos problemas da brasilofonia e da CPLB. Problemas reais são a neo-colonização às avessas e a extinção da Língua-matriz substituindo-a pela cacografia e o léxico e a prosódia e a sintaxe transitoriamente em uso no Distrito Federal de Brasília.

A CPLP irritante

João Gonçalves*

 

Se realizarmos uma sondagem fora do “meio” sobre o significado do acrónimo CPLP, poucos saberão – e não perdem nada com isso – tratar-se da “Comunidade dos Países de Língua Portuguesa“.

 

Esta CPLP reúne em “cimeiras”. Desta vez, coube a Luanda receber mais uma. Lá foram Marcelo e Costa, este devidamente parabenizado num jantar oferecido pelo general Lourenço. Consta que Marcelo “puxou” pelo “parabéns a você nesta data querida” e ambos, Costa e Marcelo, desmentiram existir qualquer “irritante” entre eles. Fizeram juras de acrisolado “amor” institucional que culminaram com Costa, no seu tradicional registo de brutalidade política, a insinuar que a Guiné Equatorial entrara na CPLP, em 2014, pela mão de Passos e de Cavaco. Vamos por partes. Logo à cabeça, a língua. Acerca da qual ninguém, na prosélita CPLP, se entende por causa do “acordo ortográfico” de 1990. No país do sr. Obiang, então, a questão nem se coloca. A Guiné Equatorial ignora por junto a democracia e a língua. Todavia, nada disso impediu que os ex-presidentes de Angola e do Brasil, respectivamente Eduardo dos Santos e Dilma Rousseff, tivessem forçado a mão dos outros a aceitar a presença de Obiang na CPLP. Sem a menor capacidade geoestratégica na Europa, ou seja onde for, a CPLP caiu definitivamente na irrelevância e na inutilidade que a caracteriza desde a sua brilhante “ideia” fundadora. Quanto a interesses e negócios – as determinantes não “irritantes” da exigência angolano-brasileira de incluir a Guiné Equatorial na CPLP e que os outros inalaram e engoliram com receio que se desfizesse tão ilustre agremiação -, Costa nada disse e desfez-se em retórica democrática. Por outro lado, se, em 2018, o Estado concedeu 1,5 milhões em isenções fiscais à filha de Obiang através da Zona Franca da Madeira, por que é que não se exigiu simultaneamente democracia e respeito pelos direitos humanos no “seio” da CPLP? Só agora é que se lembrou? Enfim, desta irritante CPLP, a única coisa que me interessaria seria a defesa da língua, matéria em que falha clamorosamente. E logo a matéria não petrolífera ou bancária, e um dos melhores meios de influência de Portugal, como Vasco Pulido Valente escreveu há sete anos. A CPLP será o que sempre foi. Um pretexto frívolo e inconsequente para o país lavar alguma má consciência “colonialista” que possa ter sobrado dos idos de 70 do século passado. O que representa nada, porque os “parceiros” se estão nas tintas para isso.

João Gonçalves

*Jurista

 

[Transcrição integral (incluindo destaques a preto) de artigo da autoria de João Gonçalves publicado no

O textículo seguinte reflecte, com as naturais limitações do analfabeto escrevente, aproveitando a fantochada da 13.ª cimeira, a posição oficial dos lobbies empresariais que suportam (e financiam, presumo) a política expansionista e neo-colonialista do Brasil.

Refere o deputado brasileiro o português Agostinho da Silva (vídeo em baixo) como sendo uma espécie de arauto, apoiante entusiasta da brasileirização da ex-potência colonizadora e das ex-colónias portuguesas em África. Este “exemplo” é citado como paradigma do conceito de “lusofonia” (o disfarce de “língua brasileira no mundo”), quando — que eu saiba, as minhas desculpas caso esteja equivocado — aquele professor tuga limitou-se a dar aulas no Brasil. Imagino a surpresa dos brasileiros, de facto, ao esbarrar num professor universitário da “terrinha”; isso não encaixa de forma alguma no arquétipo do portuguesinho no Brasil, esse “gigante” dos “coroné” e do preconceito chauvinista, “Seu Manuéu” padeiro, de bigode e cuspindo no chão, mais sua consorte D. Maria, anafada e brutal, igualmente de bigode e também padeira.

Os 25 anos da CPLP

“Pravda”, 19.97.21
José Fernando Aparecido de Oliveira

 

A CPLP – Comunidade dos Países de Língua Portuguesa – nasceu do objetivo de criar um diálogo tri-continental permanente entre os oito países de língua portuguesa espalhados pelo mundo, situados na África, Europa e América. Esse processo ganhou impulso decisivo na década de 1990, com o empenho do então embaixador do Brasil em Portugal, José Aparecido de Oliveira. José Aparecido dava vida ao antigo sonho visionário do português originário Agostinho da Silva.

 

O primeiro passo para sua consolidação foi dado em São Luís do Maranhão, em novembro de 1989, durante a realização do Primeiro Encontro dos Chefes de Estado e de Governo dos Países de Língua Portuguesa – Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique, Portugal e São Tomé e Príncipe. O Encontro foi promovido pelo presidente José Sarney, com a mobilização de seu ministro da Cultura, o mineiro José Aparecido de Oliveira. Ali nasceu o Instituto Internacional da Língua Portuguesa, que se ocupa da promoção e difusão do idioma, e tem sua sede em Cabo Verde.

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A 13.ª cimeira da CPLP: azar?

CPLP. Marcelo diz que Portugal “sai muito feliz” da cimeira – Renascença

Rádio Renascença, 17.07.21

 

O Presidente da República afirmou este sábado que a cimeira de Luanda da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) ultrapassou todas as expectativas em matéria de resultados e que Portugal “sai muito feliz” com os novos progressos.

Esta posição foi assumida por Marcelo Rebelo de Sousa no final da XIII cimeira da CPLP, numa longa conferência de imprensa conjunta com o primeiro-ministro, António Costa, e com o ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.

“Esta cimeira ultrapassou as expectativas que eram já positivas pela conclusão do acordo de mobilidade” no espaço lusófono, declarou o chefe de Estado.

No entanto, de acordo com o Presidente da República, a cimeira de Luanda “serviu para reforçar a ideia da cooperação em curso em matéria sanitária neste período pandémico que está a ser vivido em ritmos diferentes pelos países da CPLP”.

A ideia de irmos longe num instrumento financeiro de investimento, assim como outras intenções, tudo isso é muito promissor e um virar de página. Pode dizer-se que Portugal saiu muito feliz desta cimeira, porque correspondeu ao esforço de uma presidência [de Cabo Verde] em tempo difícil”, sustentou Marcelo Rebelo de Sousa.

Perante os jornalistas, o chefe de Estado manifestou-se convicto “num novo ciclo de arranque político-diplomático na CPLP”, também abrangendo os domínios da língua e da cultura e no alargamento da própria comunidade – aqui numa alusão à entrada de Timor-Leste após ter conseguido a sua independência ao libertar-se da ocupação por parte da Indonésia.

“Este segundo ciclo não deixa de cuidar dos valores principais e foi reafirmada várias vezes a questão do Estado de Direito, dos direitos humanos e da democracia ligada a uma questão de desenvolvimento sustentável”, disse.

No entanto, na perspectiva de Marcelo Rebelo de Sousa, esta cimeira de Luanda abre para um caminho de desenvolvimento social, destacando o acordo alcançado em matéria de mobilidade.

Esta cimeira abre ainda para a economia e para a vida empresarial, completou o chefe de Estado, numa alusão à prioridade da nova presidência angolana da CPLP ao longo do próximo biénio.

Ainda segundo Marcelo Rebelo de Sousa, durante a cimeira “houve uma grande sintonia das intervenções todas”.

“Há uma convergência natural que explica a aclamação de todos os documentos submetidos à apreciação da conferência, todos eles, desde os que respeitam ao alargamento [de países observadores], até àqueles que tratam de temáticas específicas”, acrescentou.

Angola, Brasil, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Guiné Equatorial, Moçambique, Portugal, São Tomé e Príncipe e Timor-Leste são os nove Estados-membros da CPLP, que hoje celebra 25 anos.

[Transcrição integral. Publicação de “Rádio Renascença” de 17.07.21. Destaques, sublinhados e “links” meus. Imagem de topo de: ILCBrasil.]

Lá terminou mais um episódio, o 13.º, da triste saga baptizada como “Cimeiras dos Chefes de Estado e de Governo da Comunidade dos Estados de Língua Oficial” brasileira.

Note-se, para início de conversa, que o facto de aparecer “Português” ou “Portuguesa” no título da Organização, através da sua cobertura política (cuja lógica é brasileira), constitui pura manobra de marketing, com a óbvia finalidade de disfarçar o indisfarçável para que a opinião pública em Portugal não abomine aquilo que é abominável, a raiz da mentira colossal urdida por meia dúzia de brasileiros e alguns traidores portugueses: a substituição da Língua-matriz por um sucedâneo que é língua nacional numa ex-colónia portuguesa.

Neste 13.º banquete não houve qualquer novidade, já que o plano está traçado e em execução desde 2008 (via RAR 35/2008), à excepção da oficialização da manobra de perversão do Acordo de Schengen, do qual Portugal é signatário enquanto membro da União Europeia. Marcelo declara, arrogando-se o direito de falar em nome do país, que “sai muito feliz” do repasto e, em especial, devido à parte da galhofa em que ficou combinado — preto no branco — que Portugal passa a ser a porta dos fundos para que milhões de brasileiros entrem na Europa legalmente e não a salto. Evidentemente, não é possível comparar o incomparável, ou seja, a dimensão (a população) do “gigante brasileiro” com os contingentes de emigração de qualquer dos PALOP; e também não tem nada a ver com a relação familiar entre os moçambicanos, angolanos, cabo-verdianos, guineenses ou santomenses com os portugueses, com Portugal. “Revendo” o estatuto e o mecanismo de atribuição da dupla nacionalidade, ou mesmo sem essa “revisão”, a porta dos fundos fica desde já mais do que aberta, fica escancarada.

No que diz respeito à Língua propriamente dita, aquela que é comum a Portugal e PALOP, a patuscada luandense revelou extremo cuidado em fingir que não existe o mínimo engulho na “adoção” do brasileiro como “língua universáu“. Nas contas “oficiais”, utilizando diversas ferramentas de contra-informação, de propaganda, de intoxicação e de lavagem ao cérebro, os acordistas agitam por sistema o “tremendo” argumento (avassaladora patacoada) dos “mais de 210 milhões de brasileiros”; depois, para “agigantar” os falantes da sua língua, somam àquele ror de indígenas os habitantes de Portugal (10 milhões), Moçambique (35 milhões), Angola (30 milhões) e mais uns pouco milhões dos membros restantes. Assim, com esta continha de somar à maneira dos merceeiros, chegam a um número (absolutamente falso) cheio de zeros, coisa suficiente para que alguns labregos fiquem embasbacados, esmagados pelos milhões a granel, o que supostamente “comprova” a “difusão” da língua deles no mundo. O Brasil nacionaliza assim, de uma penada, a língua a que o Palácio do Planalto chama “portuguesa” — depois de impor a sua cacografia aos demais países — e é com base nessa engenharia comercial que se acha no direito de se apossar do conceito de “lusofonia”, abstracção que usa para esconder as suas ambições ultra-capitalistas.

Não interessa para nada que em Moçambique, por exemplo, apenas 17.º da população fale (e muito menos escreva) em Português ou que sejam 71% os angolanos que utilizam o idioma lusitano; para Timor-Leste nem há números, a coisa deve rondar os 0,5% ou, no máximo, 1% de falantes.

As estatísticas variam enormemente consoante as fontes mas, em todo o caso, a referida soma algébrica não passa de (mais uma) redonda mentira.

No entanto, apesar de pelo menos as pessoas informadas saberem perfeitamente a dimensão do logro, quais são as verdadeiras intenções do Brasil e de que estratégias se servem os acordistas portugueses para promover os interesses geoestratégicos e económicos brasileiros, ainda assim a comunicação social portuguesa reproduz em massa e até à exaustão “notícias” sobre a CPLP (e sobre o seu disfarce “linguístico”) que não passam de propaganda, pura propaganda.

Paga, é claro.

Brasil tem feito “esforço muito amplo” para promover o português no mundo

www.rtp.pt, 15.07.21

 

No âmbito dos 25 anos da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP), o diplomata destacou o trabalho que o Brasil tem desenvolvido na projecção do português, com foco na Rede Brasil Cultural, hoje denominada Rede de Ensino do Itamaraty, cuja “vocação é a promoção e difusão da língua portuguesa e da cultura brasileira no exterior“.De acordo com Costa Filho, essa tem sido uma das principais ferramentas usadas pelo Brasil na promoção do português, estando presente em mais de 40 países, em cinco continentes.

“Através dessa rede, são oferecidos cursos de língua portuguesa em todas as suas vertentes. O português pode ser ensinado como uma língua estrangeira, língua de herança ou como uma língua não materna. Então, todos esses focos estão presentes nesse esforço. A rede conta também com leitores, ou seja, professores que actuam em universidades no exterior nessa promoção“, explicou.

Paralelamente a esta rede de ensino, o Itamaraty – nome como é conhecido o Ministério das Relações Exteriores do Brasil -, tem, anualmente, um programa de actividades de língua portuguesa conduzido no exterior pelas embaixadas, consulados e missões por todo o mundo.
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