O unicórnio brasileiro

A expressão utilizada pelo actual presidente (“prefeito”, em brasileiro) da Câmara Municipal de Lisboa, no passado dia 2 de Novembro, em plena Web Summit, não foi “atrair brasileiros para Lisboa”, foi “atrair brasileiros para Portugal”.
Menos de um mês após proferir a bojarda, Moedas desloca-se a Brasília para assinar um acordo de geminação entre a capital portuguesa e a capital brasileira. Fez um acordo com esta, como já existiam acordos semelhantes com as capitais dos PALOP, mas “esqueceu-se” de “atrair para Portugal” (ou para Lisboa) os cidadãos destas outras, logo, dos respectivos países. Se há acordos de geminação com Luanda, Maputo, Bissau, Praia e São Tomé, então porque não pretenderá o “prefeito” alfacinha “atrair” angolanos, moçambicanos, guineenses e santomenses “para Portugal”? Porquê só brasileiros?

Na vida de cada qual, como é do senso comum, muito raramente há coincidências. Na política, nunca.

“Atrair brasileiros para Portugal é uma das prioridades”

eco.sapo.pt, 02.11.23
“Atrair brasileiros para Portugal é uma das minhas prioridades”, diz Carlos Moedas

A fábrica de unicórnios tem previsto um programa de softlanding, visando atrair empresas a se instalar em Lisboa.

“Atrair brasileiros para Portugal é uma das minhas prioridades”, afirmou Carlos Moedas, presidente da Câmara Municipal de Lisboa, na conferência de imprensa, na Web Summit, depois de ser conhecida a primeira scaleup a integrar a UnicornFactory Lisboa.

“Espero que a Web Summit no Brasil ajude a atrair mais pessoas para cá e não o contrário”, disse o autarca quando questionado sobre de que modo o ecossistema de startups brasileiro poderia beneficiar da Unicorn Factory Lisboa. Esta quarta-feira a Sensei foi anunciada como a primeira scaleup a integrar o programa de scaleups, com arranque previsto para 2023.

O projecto da fábrica de unicórnios tem ainda previsto um programa de softlanding, visando atrair empresas para se instalarem em Lisboa. Para estes dois programas, a CML e os privados têm alocado um total de 8 milhões de euros.

“Lisboa tem de ser uma cidade aberta”, reforçou Moedas, que aposta no projecto da fábrica unicórnios — uma promessa eleitoral — para atrair empresas de base tecnológica de todo o mundo para a cidade, uma forma, diz, de atrair jovens e criar emprego.

“A diversidade de pessoas é o que cria inovação”, reforça.

[Transcrição integral, incluindo destaque e “link”. Cacografia brasileira corrigida automaticamente]

Moedas assina acordo de geminação entre Lisboa e a capital do Brasil

Dinheiro Vivo/Lusa
dinheirovivo.pt, 23.11.23

O acordo tem como objectivo geral cimentar relações de amizade, intercâmbio e reforçar os laços históricos e culturais.

O presidente da Câmara Municipal de Lisboa, Carlos Moedas, que está no Brasil, assina esta quinta-feira em Brasília um acordo de geminação entre as capitais portuguesa e brasileira.

Durante um jantar de comemoração dos 111 anos da Câmara Portuguesa de Comércio no Brasil, em São Paulo, Moedas disse à Lusa que o acordo está inserido numa tradição que Lisboa já mantém com várias capitais de países de língua portuguesa como Luanda, Maputo, Bissau, Praia e São Tomé.

“O acordo é mais uma ligação de cidades irmãs que, Lisboa, por tradição, tem com cidades que são capitais de países de língua portuguesa. Não tínhamos isso com o Brasil e eu gostava muito de deixar essa marca (…). Por isso, assinar este acordo é muito importante”, afirmou o autarca.

O acordo de geminação entre Lisboa e Brasília, que será assinado por Ibaneis Rocha, governador do Distrito Federal (que detém o controlo administrativo da cidade de Brasília), tem como objectivo geral cimentar relações de amizade, intercâmbio e reforçar os laços históricos e culturais.

De acordo com dados divulgados no site da Câmara Municipal de Lisboa, os acordos de geminação também simbolizam “um reconhecimento de interesse mútuo no comércio, indústria e educação.”

A capital portuguesa já assinou 13 acordos de geminação, que incluem cidades europeias, asiáticas e africanas como Madrid, Rabat, Malaca, Macau, Budapeste e Cachéu. No Brasil, Lisboa mantém acordos de geminação com as cidades do Rio de Janeiro e Salvador.

Moedas confirmou que participou na Assembleia-Geral da União das Cidades Capitais Luso-Afro-Americo-Asiáticas (UCCLA), no âmbito de uma visita ao Brasil que começou na segunda-feira.

“Sou presidente da UCCLA, dessa união das cidades que falam português, e foi uma reunião muito boa porque conseguimos juntar muitas cidades, mais de 40 cidades, à volta da mesa, em Fortaleza [capital do estado brasileiro do Ceará], para discutir os temas da língua portuguesa e aquilo que é a capacidade que temos como cidades capitais portuguesas de sermos centros de inovação e tecnologia”, explicou.

Depois de passar por Fortaleza, Moedas participou, na terça-feira, em São Paulo, na 20ª. Assembleia Geral da União das Cidades Capitais Ibero-Americanas (UCCI), na qual autarcas de 18 cidades decidiram que o ano de 2024 será dedicado à língua portuguesa.

“Fui eleito vice-presidente da UCCI [no biénio 2024/2025]. Foi um prazer promover um impacto maior da língua portuguesa, não só o impacto que queremos ter entre as cidades de língua portuguesa, mas também nas cidades ibero-americanas, que por tradição usavam mais a língua espanhola a do que a língua portuguesa”, avaliou.

Moedas reuniu-se ainda com o prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, e com o vice-governador do estado de São Paulo, Felicio Ramuth.

O autarca de Lisboa lembrou que assinou, há cerca de um ano, um acordo bilateral de colaboração com a maior cidade do Brasil, que engloba parcerias e troca de experiência em várias áreas como limpeza urbana, saúde, empreendedorismo, promoção de tecnologia, gestão administrativa e intercâmbio entre funcionários públicos.

Moedas disse que outro objectivo da visita ao Brasil é promover o projecto Fábrica de Unicórnios de Lisboa, que visa atrair investimentos de grandes empresas tecnológicas à capital de Portugal.

“Conseguimos num ano atrair mais de 54 empresas tecnológicas para Lisboa, entre elas [empresas] unicórnios, ou seja, que valem mais de mil milhões de euros (…). Hoje já temos um unicórnio brasileiro na nossa cidade, com escritórios, que é a Quinto Andar”, empresa de arrendamento de imóveis, disse o autarca

“Lisboa é um centro de atracção de talentos e é uma plataforma de inovação que hoje conta na Europa. Nós estamos pré-seleccionados para ser a capital da inovação da Europa. Acredito que Lisboa pode ganhar esse prémio porque tem realmente construído um ecossistema de tecnologia e inovação único na Europa. E, portanto, estou aqui também para falar com os investidores brasileiros“, concluiu.

[Transcrição integral. Cacografia brasileira corrigida automaticamente.
Destaques e “links” meus. Imagem de topo de: “Saddlery Direct“.]



‘Os deuses devem estar loucos’

«O nosso grande problema na Galiza é a imposição, culturalmente terrorista, de grafar o galego em castelhano; em paralelo a isso, está a concepção imposta polo poder espanhol e os seus sequazes de que a nossa Língua é um idioma menor reduzido a quatro províncias espanholas e que deve estar sempre subordinado ao castelhano. Nesse contexto, reivindicar a universalidade da língua e mencionar o Rio de Janeiro é compreensível.»

Permito-me discordar, caro José Tápia, da referência que fez o deputado galego à capital turística do Brasil, misturando o Rio com Coimbra, Luanda e Díli. Ainda que a discordância incida apenas neste único ponto, o qual, na minha opinião, é absolutamente fundamental, parece-me oportuno ao menos tentar esclarecer aquilo em que se baseia a discordância e, de caminho, deixar claro que afinal estamos todos do mesmo lado: como muitíssimo bem resume o José, trata-se da “nossa língua” e, portanto, há que defendê-la, seja do imperialismo castelhano, seja do imperialismo brasileirista.

De facto, a pretensa “universalidade da língua” — de qualquer Língua, aliás, à excepção daquela que em determinada época histórica e contexto geográfico funcione como língua franca — constituiu o “argumento” basilar da imposição da chamada “língua universau” brasileira; foi a essa efabulação que se encostaram os brasileiristas gananciosos daqui e os gananciosos brasileiros de lá para tentar impingir o inenarrável “acordo” a Portugal e aos PALOP. [post “A Língua Galega no Congresso Nacional de Espanha”]

O inacreditável artigalho que abaixo se transcreve, debitado por um neo-imperialista assumido, presta-se a um exercício que, além de tristemente cómico, qualquer pessoa pode executar com a maior das facilidades; trata-se, ao estilo das corrigendas, de substituir mentalmente uma coisa por outra: “onde se lê X leia-se Y”.

  1. Onde se lê “Galiza” leia-se Portugal.
  2. Em certos casos, onde se lê “o Galego é” (ou “a Língua Galega é”) leia-se o Português é (ou a Língua Portuguesa é).
  3. Em certos casos, onde se lê “português” (ou “língua portuguesa”) leia-se brasileiro (ou língua brasileira).
  4. Onde se lê CPLP leia-se CPLB.
  5. Em certos casos, onde se lê “castelhano” leia-se brasileiro.
  6. Em certos casos, onde se lê “Estado espanhol” leia-se Estado brasileiro.

Outro exercício interessante — e com não menos piada — será catar no texto do cavalheiro as diversas formas do verbo “falar”, incluindo adjectivações e formas substantivas: fala, falamos, falada, falantes etc. A este doutorando em “estudos linguísticos” na Universidade da Corunha (mas que extraordinária coincidência) parece ser completamente estranho o conceito de… escrita.

Bem, atendendo a quem é este “investigador”, o fenómeno é de certa forma compreensível: a desortografia da língua brasileira consiste basicamente em, sem ter de aprender o “código” de transcrição fonética, escrever (mais ou menos) como se fala. Talvez o senhor ande nas aulas da “escola” das “línguas minoritárias”; ou então, pior ainda — mas muito mais provável — julgue que, no fundo, no fundo, essa maçada da escrita é um erro, aquilo das línguas ágrafas é que é bom, o Navajo, o Udi, a língua de estalidos de “Os Deuses Devem Estar Loucos”, oh, sim, oh, sim, isto ele não há nada como o paleio.

O que o Brasil ganha com a oficialização da língua galega na União Europeia?

Ajudar no reconhecimento da língua galega é também proteger a língua portuguesa como patrimônio histórico e cultural no lugar em que ela nasceu

“Le Monde Diplomatique – Brasil”, 15.09.23
Victor Hugo da Silva Vasconcellos

Em 19 de setembro de 2023, a União Europeia irá realizar um voto em relação à inclusão do catalão, do basco e do galego em seu regime linguístico. A decisão de oficializar a língua galega na UE está dividindo a região autônoma da Galiza. O motivo reside em uma discussão que já corre por mais de 40 anos sobre o galego ser ou não ser português.

A maioria da população brasileira – assim como a portuguesa – desconhece a situação linguística da Galiza, uma vez que é uma região dentro do Estado espanhol, levando a crer que sua língua seja o castelhano. Isso é uma meia verdade: a Galiza (assim como o País Basco e a Catalunha) é uma região bilíngue, isto é, além da língua de Estado (castelhano) também fala sua língua própria (galego), e ambas são oficiais na Comunidade Autônoma da Galiza. São duas as grandes questões que atravessam a sociedade galega: a) o desaparecimento gradual de sua língua própria; b) se o galego é português ou uma língua autônoma.

Bandeira de Estado da Comunidade Autônoma da Galiza, região da Espanha onde se fala a língua galega (Wikimedia Commons)

A primeira questão é muito séria e vem preocupando a Galiza há décadas. Uma pesquisa feita pelo Instituto Galego de Estatísticas (IGE), em 2018, apontou que apenas 30% da população galega fala galego diariamente. O mais assustador é que a faixa etária que mais fala (75%) é composta por pessoas acima de 60 anos; e a faixa etária que menos fala (25%) é composta por crianças de até 15 anos. Desse modo, o risco de a língua ser totalmente substituída pelo castelhano é real. Isso está ocorrendo, entre outras razões, por conta da imposição da língua castelhana nos meios oficiais de comunicação. Dessa forma, o galego vem perdendo prestígio entre seus falantes, como se fosse uma língua sem utilidade.

O segundo ponto poderia ser de grande utilidade à Galiza e ao Brasil. De onde vem a língua galega? Em resumo, ela tem um passado que se funde com o da língua portuguesa. Sim, elas foram a mesma língua por séculos, falada na Galécia (Reino da Galiza) até o século XII, momento em que o Condado de Portugal se separou do Reino da Galiza e virou o Reino de Portugal. A língua ainda continuou sendo falada nos dois reinos mesmo com a proclamação do português como língua oficial de Portugal por D. Dinis, no século XIII; e da escrita da primeira gramática da língua portuguesa por Fernão de Oliveira, no século XVI. O que ocorreu então com a língua galega?

O Reino da Galiza foi anexado à Coroa de Castela ainda no século XII, perdendo parte da sua autonomia linguística, pois a língua oficial da Coroa era o castelhano (lembrando que o latim foi língua franca na Europa aproximadamente até os séculos XV – XVI). Toda a corte galega era composta também por castelhanos que foram impondo sua língua na administração da Galiza. Até o século XIX, a porcentagem de falantes de galego era muito alta, (em torno de 90%), já que o castelhano era língua administrativa e não do povo. Mesmo sem a oficialização da língua e uma gramática própria, o galego era ensinado pela família, pela transmissão intergeracional da língua (a mesma falada no seu vizinho do sul, Portugal). Em meados do século XIX, o Reino da Galiza deixa de existir, passando a ser uma região autônoma anexada ao Reino da Espanha, mas mantendo sua extensão territorial.

Nas primeiras décadas do século XX, houve a ditadura e a perseguição à língua. Toda a proibição sobre o galego na ditadura de Franco (1939-1975) ainda gera efeitos negativos sobre a língua. Muitos pais não passaram sua língua para seus filhos, ensinando o castelhano por medo do regime autoritário. Com a oficialização da língua nas últimas décadas do século XX, criou-se uma norma e uma gramática oficial para ela.

Afinal, o galego ainda é o português?

Mesmo depois de séculos de separação, os estudos de filologia ainda o consideram como a mesma língua, mas que adotou nome e ortografia diferentes por questões políticas. Os dígrafos comuns em português nh / lh são escritos na ortografia castelhana como ñ / ll, embora tenham o mesmo som, como banho – baño / coelho – coello. Outra característica diferente é que o galego não apresenta a combinação nasal ão / ões, mas sim, ón / óns (não – non / canções – cancións) em sua fonética. Continue reading “‘Os deuses devem estar loucos’”

Galego e Português, as duas margens de um rio

Fronteira Galiza-Portugal

Como galego, e portanto como pessoa com experiência própria e histórica no que diz respeito a como um estado pode ser lingüicida, muito poderia dizer sobre o tema que (infelizmente) nos preocupa. De facto, foi esse estado castelhano-espanhol o que mudou de estratégia (NÃO de objectivos) há algo mais de 30 anos, “tolerando” uma cooficialidade hipócrita da nossa Língua na Galiza enquanto continua a sua minorização em todos os âmbitos oficiais e, portanto, na sociedade. Na seqüência dessa mudança de estratégia, a nossa Língua viu-se obrigada a vestir a farda ortográfica castelhana, e assim seguimos até hoje, com a degradação e deturpação que é fácil de imaginar. Daí que, ‘mutatis mutandis’, acho poder compreender o que estão a viver em Portugal os portugueses que amam a sua Língua e não a querem ver manipulada e abandalhada por infames critérios (economicistas, de baixa política e outros igual de inconfessáveis). [AO90: «Aldravice elevada a dogma» [Bento (Galiza), correspondência]]

Entender e perceber todas as dimensões da situação que hoje atravessa o português na Galiza exige um conhecimento sequer sucinto, da sua história. Recuemos pois ao século V, quando Roma, enfraquecida, abandona os seus domínios no leste peninsular. Da desagregação do Latim falado surgiu o idioma que hoje, com as suas variantes a todo o longo da faixa atlântica peninsular, ainda nos une aos que nela vivemos a jeito de vínculo sagrado pela história. Nessa Língua deu Galiza à cultura europeia medieval a grande achega da poesia lírica e satírica dos cancioneiros: e, dentro da primeira delas, está esse tesouro originalíssimo das Cantigas de Amigo, postas sempre em boca de uma mulher e cheias da emoção e delicadeza-tão condizentes com a alma galega. São temas e estilos bem diferentes aos dos coevos cantares de gesta da épica castelhana, testemunhas de um povo e um carácter rudes e belicosos, alheios ao afecto, lirismo e ternura presentes na alma galega. Tanto é assim que até no século XIII, quando já na Galiza o vigor da sua cultura declinava pela perda da sua independência política e a sua vinculação a Castela, o próprio rei Afonso X, o Sábio (em cujo reinado se cria a prosa literária e científica castelhana em detrimento do galego), fará a última grande contribuição à lírica da nossa Língua: a recompilação das Cantigas de Santa Maria, de algumas das quais é possível fosse autor, compêndio da lírica sacra galego-portuguesa e, paradoxalmente, momento a partir do qual começa a agonia literária do nosso Idioma na Galiza. [Galiza: ontem e hoje de um genocídio linguístico – II [por Bento S. Tápia]]

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O que faz correr os acordistas?

Por mais que se explique e demonstre, parece não terem ainda ficado claros, em alguns espíritos mais coriáceos os verdadeiros motivos que estão e que sempre estiveram por detrás do #AO90. A algumas pessoas será porventura difícil entender quais as reais finalidades económicas subjacentes e que interesses políticos motivaram os corruptos, vendilhões e traidores que entregaram ao Brasil a Língua Portuguesa.

Reconheçamos, porém, que tão lamentáveis lacunas de entendimento poderão ter resultado, pelo menos em algumas das tais alminhas mais “sensíveis”, do facto de ser realmente inimaginável que semelhante assalto tenha sido planeado e perpetrado mesmo debaixo do seu nariz. Torna-se de certa forma compreensível, caso sejamos minimamente magnânimos (ou caridosos, vá), aceitar que não deve ser nada fácil, para os ditos “distraídos” — e, por maioria de razões, para os 98% de portugueses absolutamente alheados da questão –, sequer conceber a ideia de que tenha sido possível alguns dos seus compatriotas terem ido àquela ex-colónia portuguesa oferecer a Língua nacional. Mas… a troco de quê faria aquela cáfila de bandidos semelhante coisa?

Bem, como tem sido aqui reiteradamente demonstrado, com exemplos práticos, testemunhos, provas documentais e até, quando em vez, perguntando a eventuais leitores se porventura será preciso fazer um desenho — o que implica fazê-lo mesmo, logo de seguida –, o que motiva bandidos é aquilo que, por exemplo, Budd Schulberg, com esmagadora lucidez, associou como um ferrete à mais conhecida das suas personagens: o dinheiro. É isso e só isso, o que faz correr Sammy.

Claro que no caso do #AO90, outro bestseller “mundiau”, o que faz correr acordistas é igualmente o dinheiro, sim, mas com outras, diversificadas e muito imaginativas designações. Tudo depende do câmbio em cada momento: o dinheiro é a figuração por excelência de poder, prestígio e influência, portanto pode ser trocado por tachos ou cunhas — para o próprio “investidor” e para os seus amigos, confrades e familiares –, por ao menos ter a ilusão de ver o seu nome grafado num documento “histórico” (alguns dos que se dizem anti-acordistas não passam de ressabiados que não foram tidos nem achados), ou apenas para publicar um livrinho, um artigozinho de jornal que seja, para exibir-se em palestras, para dar uns palpites nas redes anti-sociais — em suma, para “aparecer”.

Todas estas nuances são extremamente bizarras para qualquer estrangeiro — pudera, uma ex-colónia impor a sua língua ao país ex-colonizador é caso único no mundo e na História universal — e dessa estranheza resultam arrazoados por vezes confusos ou mesmo atabalhoados; sejamos novamente compreensivos, desta vez também para com estes estrangeiros, coitados, que têm de levar — manifestamente, sem compreender coisa alguma, de tão absurda que é a própria terminologia acordista — com “máximas” e dichotes inacreditavelmente imbecis (“língua universau”?, “unificação”?, “pronúncia culta”?, “teimosia lusitana“?) contidos naquela aberração “oficiau”.

15 Fascinating Facts About the Portuguese Language

1. It’s the sixth most spoken language in the world

You probably know that Portuguese is one of the most spoken languages in the world, but did you know that it’s among the top 10 most spoken languages?

With over 200 million native speakers, Portuguese is ranked sixth most spoken language in the world. It’s also the second most spoken Romance language, after Spanish.

The reach of the Portuguese language is connected to its colonial past. Portuguese conquerors and traders brought their language to America, Asia, and Africa. And the rest is, well, history.

2. It’s one of the fastest-growing European languages

The Portuguese language isn’t spoken in such widely-distributed parts of the world only because of its past. Portuguese is also becoming more and more popular, and it’s growing fast.

Many people decide to take Portuguese lessons, and there are many reasons for this. Of course, one of them is the wide reach of the language, so everything is quite connected.

Either way, according to UNESCO, Portuguese might actually become an international communication language. And that’s definitely a solid reason to start learning Portuguese.

3. It’s the official language of 9 countries

If you learn Portuguese, you will be understood in many countries. After all, many people study it as a second language. But Portuguese isn’t only widely spoken and popular – it’s also the official language in nine countries!

Many people believe that Portuguese is the official language in Brazil and Portugal. But it’s also the official language in Angola, Mozambique, Cape Verde, Guinea-Bissau, São Tomé and Príncipe, Equatorial Guinea, and East Timor.

In Brazil, Portugal, Angola, and São Tomé and Príncipe (island country in Central Africa) it’s spoken by the vast majority as a native language, and in others countries, it’s spoken by the minority as a first or second language.

4. Only 5% of Portuguese speakers actually live in Portugal

If you take into account all of the above, it’s easy to conclude that the majority of Portuguese speakers are not from Portugal. In fact, it’s estimated that only 5% of Portuguese speakers live in Portugal.

Brazil is by far the world’s largest Portuguese-speaking nation. And it’s the only Portuguese-speaking country in the Americas. But although more than 90% of people in Brazil speak Portuguese, the language is the most widespread in Portugal.

All in all, the fact that less than 10% of Portuguese speakers live in the language’s country of origin is quite fascinating.

5. European and Brazilian Portuguese is not the same

If you want to take Portuguese classes, you’ll have to decide which dialect you want to learn: European or Brazilian Portuguese. The thing is, although they’re mutually intelligible, they’re actually quite different.

So, what is the difference between Brazilian and European Portuguese? For starters, there are many differences in pronunciation, so they sound different.

Also, some words are spelled differently, and when you’re in Portugal, you’ll have to pay attention to formal and informal speech. There are some differences in the vocabulary too, and that’s perhaps the most obvious difference.

As you can see, although it’s the same language, the difference between the two is distinct, especially if you ask a native speaker.

6. New letters were added to the alphabet recently

Generally, Portuguese is based on the Latin alphabet and comprises 26 letters of which 5 are vowels and 21 are consonants. But there weren’t always 26 letters in the Portuguese alphabet – 3 of them were integrated in 2009.

The thing is, the letters K, Y, and W are only used for loanwords, so up until recently, they weren’t a part of the alphabet, at least not officially. But the new Orthographic Agreement (which standardizes spelling forms) made them a part of the alphabet.

However, they’re still only used for certain words such as foreign places, people’s names, units of measurements (like kilogram), acronyms, and symbols.

7. It’s influenced by Arabic

Another interesting thing about Portuguese is that it’s influenced by the Arabic language. If you’re good at history, you know that in the early 8th century, the Islamic Moors from North Africa and the Middle East conquered Portugal and Spain.

Therefore, until the 13th century and the Reconquista, the official language of the Iberian Peninsula was a form of Arabic. As a result, Arabic had a great influence on Portuguese, and many Arabic words have been adapted into the Portuguese language.

This linguistic mark can be seen in hundreds of Portuguese words, and can still be heard in everyday conversations.

8. It has some super long words

If you think that the German language has very long words, you should know that Portuguese has some unusually long words too.

For example, the longest non-technical word in the Portuguese language has 29 letters – it’s anticonstitucionalíssimamente. But since it means “in a very unconstitutional way/manner”, you won’t use it that often. Probably.

9. Six different endings in each verb tense

If you want to learn how to speak Portuguese, you shouldn’t be worried about learning long Portuguese words. But something that might be a real and more immediate challenge is learning six different conjugations for pronouns.

In Portuguese, each verb tense has six different endings. Unlike English, Portuguese requires you to think about who is performing the action. While in English there are only two options (for instance, run or runs), in Portuguese, there is more than one way to say ‘you’, ‘it’, and ‘they’.

You’ll also have to learn to identify Portuguese verb tenses and moods. So, learning basic Portuguese grammar and building a strong foundation is a must.

10. There are twoways to say “to be”

Another difference between English and Portuguese is that Portuguese has two different verbs for saying “to be”: ser and estar.

The verb ser is used to describe permanent states, whereas estar is used for something temporary or circumstantial (like mood or weather). So, it all depends on the context’s time frame.

11. Portuguese has influenced English

Unsurprisingly, the worldwide spread of the Portuguese language influenced many languages including English. English speakers will find many familiar words in the Portuguese vocabulary.

Some of the most popular English-Portuguese cognates are Animal (Animal), Original (Original), and Real (Real). Also, a lot of English adverbs ending in –ly can easily be converted into Portuguese; Really (Realmente), Naturally (Naturalmente), and so on.

12. It comes from Galicia, Spain

As you already know, Portuguese is one of the most widely spoken languages in the world. But do you know where it comes from?

The roots of the Portuguese language are in the autonomous community of Galicia located in northwest Spain. The Galician language (also known as Gallego) was born in the 10th century, and it’s a combination of common Latin and local dialects. And back in the 14th century, Portuguese emerged as a descendant language.

So, Portuguese and Galician are sister languages, and their native speakers can easily understand each other.

13. Portuguese passport is the fifth most powerful in the world

According to the Passport Index, Portugal has the fifth position in the ranking of the most valuable passports in the world. The Henley Passport Index (HPI) is a global ranking of countries according to travel freedom.

With the Portuguese passport, you’ll have visa-free access to 187 countries. So, it’s fair to say that Portugal has valuable citizenship. And although this fact is more related to the country than to the language, the fact that Portugal is in the same ‘passport’ group as the UK, France, and Ireland is quite amazing.

14. It’s very romantic

Besides being popular and useful, Portuguese is also quite romantic. The Portuguese language has a lot of vowel sounds, and its consonants have a percussive quality to them. Also, native speakers use a lot of intonation in their speech.

All of that makes the Portuguese language very unusual but also smooth and intriguing. In our opinion, it’s definitely one of the most beautiful and romantic languages in the world.

15. Portuguese has some unique words

Another thing that makes Portuguese very interesting (and romantic) is that Portuguese has certain words that are unique to the language.

You’ve perhaps heard of the word saudade – it’s used for the feeling of melancholy, desire, and nostalgia. And having unique words that are hard or impossible to describe in another language is quite fascinating.

Final Thoughts

We hope these interesting and fun facts about Portuguese helped you realize how amazing this language actually is. It’s beautiful and unusual, and it’s spoken all around the world.

And if all of this also inspired you to start learning Portuguese, you can check out our reviews of the best apps to learn Portuguese and the best online Portuguese classes.

Linguatics

Written By Jessica Knight

Founder of Linguatics. Passionate multilinguist.

[Transcrição integral. Acrescentei “links” (a verde).]


[tradução]

15 Factos Fascinantes sobre a Língua Portuguesa

1. É a sexta língua mais falada no mundo

Provavelmente sabe que o Português é uma das línguas mais faladas no mundo, mas sabia que está entre as 10 línguas mais faladas?

Com mais de 200 milhões de falantes nativos, o Português aparece por vezes classificado como sendo a sexta língua mais falada do mundo; e também como a segunda língua românica mais falada, a seguir ao espanhol.

A difusão da Língua Portuguesa está ligado ao seu passado colonial. Os conquistadores e comerciantes portugueses levaram a sua língua para a América, Ásia e África. E o resto é, bem, o resto é História.

2. É uma das línguas europeias que mais crescem

Continue reading “O que faz correr os acordistas?”

‘Sem Papas na Língua’

Bula “Manifestis Probatum”, de 23 de Maio de 1179, do Papa Alexandre III. Declara a independência do Condado Portucalense e D. Afonso Henriques como seu soberano.

O Papa João Paulo II fez absoluta questão de discursar sempre utilizando a Língua Portuguesa nas três ocasiões (1982, 1991 e 2000) em que visitou o nosso país. O mesmo vale para a visita do Papa Paulo VI, em 1967. E outro tanto sucedeu aquando da visita de Bento XVI em 2010.

Algo de bizarro — ou, pelo menos, de intrigante — poderá ter sucedido para que, na mais recente visita papal, o actual líder da Igreja Católica, Francisco, tenha evitado — se não recusado — comunicar em Português; à excepção das duas vezes em que usou a expressão “bom dia” (pronunciando bom djia, o equivalente brasileiro) e das três ou quatro ocasiões em que se dignou usar o agradecimento português, este pontífice exprimiu-se sistematicamente em Italiano, a Língua do Vaticano, ou em Castelhano, que é a sua língua materna.

Sucede, portanto, que tivemos três Papas na Língua e um Papa fora dela… a não ser quando vai ao Brasil.

Francisco presidiu há 10 anos, no Rio de Janeiro, ao mesmo evento que agora se realizou em Lisboa; enquanto permaneceu no Brasil usou nos seus discursos o Português correcto, escrito para ser lido, o que nada tem a ver com “sotaques”; então será legítimo indagar qual o impedimento ou quais os motivos para tal. Porque falou este Papa em Português no Brasil e em Castelhano e em Italiano em Portugal?

Julgará porventura que no Brasil — o tau da língua universau — é que se usa o Português, até porque é esse o nome que ali deram à língua nacionau? Os assessores de Sua Eminência não tentaram sequer “googlar” qual é a Língua que se fala e escreve em Portugal, antes de meterem a dita eminência no avião com destino a Figo Maduro? Acharão eles — ou, mil vezes pior, pensará o próprio — que na Península Ibérica é tudo espanhol e, por conseguinte, em Espanhol?

O ridículo da situação ecoa em igual medida no ridículo de tão absurdas “questões”. Mas o assunto, até porque parece ter passado despercebido aos media (e às redes anti-sociais, sempre muitíssimo atentas e ainda mais indignadas), pouco ou nada tem de irrelevante.

E não será por a ninguém ter ocorrido a menor dúvida sobre o assunto, talvez devido à habitual e tão idiossincrática passividade tuga, que ficarão por formular algumas perguntas — já noutro tom, que o assunto é demasiadamente sério para brincadeiras ou trocadilhos –, as que se impõem pela própria natureza daquilo que está aqui e agora em causa: este Papa no Brasil falou em Português mas assim que aterrou em Portugal ter-se-á de repente esquecido de mais do que “bom djia” e “obrigado”. Ignorou — falta apenas determinar se ostensivamente — a Língua Portuguesa. Mais um vergonhoso enxovalho ao qual não serão certamente alheios os (ir)responsáveis que venderam a Língua nacional àqueles que hoje por hoje se julgam donos dela.

Então, assim sendo, tiremos as maiúsculas ao título e fiquemo-nos pela expressão idiomática: sem papas na língua…

  • O Governo e o Presidente sabiam de antemão que isto iria suceder, ou seja, que o Papa não falaria em Português enquanto estivesse em Portugal?
  • Terá o Papa Francisco premeditado em ambos os casos (falar em Português no Brasil mas Espanhol em Portugal) ou isso sucedeu por qualquer outro motivo? E se houve outro motivo, qual foi ele?
  • Se não foi premeditado, poderá vir a ser alegado pelo Vaticano que numa visita de Estado ocorrem factos por mera casualidade ou “consoante calha”?
  • Se houve outro motivo para o banimento da Língua Portuguesa (que o Papa conhece e fala), como poderá o mesmo ser explicado, em termos de relações diplomáticas e disposições protocolares?
  • As autoridades eclesiásticas portuguesas tiveram naturalmente conhecimento prévio, em sede de reunião preparatória (ou várias) da visita e de organização das Jornadas. Que posição tomou a hierarquia da IC portuguesa quanto a esta matéria em concreto? Existiram pressões? De quem ou de que empresas, organizações ou instituições?
  • Qual será a posição pessoal do cidadão argentino Jorge Mario Bergoglio quanto a questões político-linguísticas em geral e quanto à língua universau brasileira em particular?
chegada JMJ Rio 2013: em Português

chegada JMJ Lisboa 2023: em Italiano

discurso aos voluntários JMJ Rio 2013: em Português

discurso aos voluntários JMJ Lisboa 2023: em Castelhano

despedida JMJ Rio 2013: em Português

despedida JMJ Lisboa 2023: em Castelhano

Da página em “português” no site do Vaticano: discurso no encontro com Centros de Assistência e Caridade, 4 de Agosto. O Papa fala em Castelhano, à excepção da saudação incial (“bom djia”); o discurso é “dublado” em brasileiro.
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