Volta a meio mundo em 40 dias

Depois da visita a Portugal, primeiro, a Cabo Verde de seguida, e ainda antes da viagem a Luanda, prevista para este mês de Agosto, o marido da Janja foi a Bruxelas tratar dos negócios “lusôfonos”. Para que se compreenda o alcance daquilo que está agora em processo de execução, é conveniente que esta espécie de périplo de Estado negocial seja lida em conjunto, seguindo a respectiva cronologia: Lula veio à “terrinha” discursar no último 25 de Abril e, depois de acertar os negócios com a União Europeia, usando membros do “executivo” tuga como papagaios, foi a Cabo Verde agradecer “350 anos de escravatura”, ou seja, na prática, a colaboração daquele pequeno país africano na institucionalização da língua “universau” brasileira. De enfiada, logo após a tomada de posse como soba supremo da CPLB (Portugal, Cabo Verde, São Tomé, Guiné-Bissau, Moçambique, Macau, Timor e Angola), numa vergonhosa cerimónia realizada em pleno parlamento “português”, soma-se agora a simulação de “negociações” com o eixo franco-alemão e, para fechar com chave de ouro (literalmente) a peregrinação do “metalúrgico”, seguir-se-á a “visita de Estado” a Angola, cuja resistência à pax brasiliensis e à sua colonização linguística poderá fazer subir exponencialmente os valores envolvidos para que o preço certo mais uma vez possibilite o aperto de mãos que marca o negócio fechado. Como facilmente se vê, de tal forma descarado é o “apoio” dos fantoches tugas (vulgo, governantes) envolvidos na tramóia, vale tudo para encapotar com uma fábula pseudo-linguística uma colossal fraude político-económica — ou saque, o substantivo é indiferente, ao contrário da substância.

Lula diz que proposta do Mercosul para acordo com a União Europeia foi enviada, mas não será definida em Bruxelas

“Nós concluímos a pauta do Mercosul e já enviamos para os presidentes do Mercosul. Ela não vai ser discutida aqui porque não é a CELAC que tem que fazer o acordo, é só o Mercosul”, disse Lula.

Agência Lusa observador.pt

O Presidente do Brasil disse esta terça-feira que a proposta do Mercosul para um acordo comercial com a União Europeia (UE) já foi enviada, mas não será concluída na cimeira entre europeus e a Comunidade de Estados Latino-Americanos e Caribenhos (CELAC), em Bruxelas.

“Aqui você [o Brasil] está numa reunião que participam todos os presidente da Europa e todos os presidentes da América Latina e Caribe. É a oportunidade não apenas para fazer acordos, discutir acções conjuntas dos dois continentes, discutir investimentos, como é extremamente importante fazer reuniões bilaterais para que se discuta a aproximação do Brasil com o mundo”, declarou o Presidente brasileiro, Luiz Inácio Lula da Silva, numa transmissão ao vivo online.

“Nós concluímos a pauta do Mercosul [bloco formado por Brasil, Argentina, Uruguai e Paraguai] e já enviamos para os presidentes do Mercosul. Ela não vai ser discutida aqui porque não é a CELAC que tem que fazer o acordo, é só o Mercosul, mas estou achando a reunião extraordinária”, acrescentou.

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“350 anos de escravidão”, viu?

Esperemos que não seja muito maçador repetir a cronologia, esse pouco ou nada célebre mas imensamente triste plano de colonização inversa e as alíneas em que se baseia actualmente a estratégia de actuação política dos envolvidos na tramóia.

cronologia
  1. «500 a 700 mil brasileiros em Portugal.» (JMD)
  2. «Estado brasileiro na Europa.» (JMD)
  3. «Portugal será uma espécie de posto avançado do Brasil no mundo.» (JMD)
  4. «Como Portugal é membro da Comunidade Europeia, (…), essa relação Brasil-Portugal e essa relação Brasil-Europa e a vontade que ele [Lula] expressou repetidamente de que o Brasil tem de se aproximar da Europa muito mais do que ‘tava, que a Europa é um parceiro estratégico p’ro Brasil, não só comercial (…), Portugal vai ser aí contemplado com nomes interessantes p’ra representação do Brasil em Portugal. (…) Uma atenção muito grande do Itamaraty nessa embaixada em Portugal.» (PDN)

A espécie de notícia reproduzida em baixo — aliás, propagada ipsis verbis por uma série de pasquins brasileiros — é mais uma claríssima demonstração de como o dito plano e os pressupostos referidos estão não apenas consolidados, como foram já para além daquilo que diz respeito à porta-dos-fundos para a Europa. O que, recordemos ainda, estava igualmente mais do que previsto.

«Portugal precisa de boa imigração e de investimento, do Brasil e dos países de língua portuguesa, da mesma forma que o Brasil e os outros países precisam de uma porta de entrada para um mercado europeu. O primeiro-ministro português sabe isso e vai lutar na União Europeia por um regime especial para os cidadãos dos países de língua portuguesa, tentando aprovar – ou pelo menos permitir – a criação de uma primeira “cidadania da língua” na história universal.»
[post «Portugal, um Estado brasileiro na Europa»]
Na dita “comunidade” brasileira um país serve como capacho de entrada na Europa e de trampolim para África. A dita “mobilidade” só existe num sentido. A dita “reciprocidade” vale apenas no papel. Todos os custos para um e todos os benefícios para o outro, eis aquilo em que consistem os sucessivos “acordos” entre Portugal e o Brasil.
[post “Três mil e cem por dia”]

Agora, como sinal da plena “conquista” das ex-colónias portuguesas em África (mais Macau e Timor), o presidente do “país-continente” anda a inspeccionar as “suas” diversas fazendas: depois da visita ao 28.º Estado e da reunião (de negócios, evidentemente) com a União Europeia***, deslocou-se a Cabo Verde e no próximo mês irá a Angola — o objectivo principal.

Nesta visitinha à República de Cabo Verde teve Lula mais uma oportunidade para debitar um estendal de asneiras, como aliás é seu costume, chegando ao ponto de inventar umas coisinhas que deve ter sacado lá da sua bagagem cultural, as “seleções” do Reader’s Digest, ou assim, isto se a Janja não se esqueceu de lhe meter uns exemplares na dita bagagem. Em resumo, mas que ideia tão “légau” teve ele, foi agradecer aos cabo-verdianos por “350 anos de escravidão”. Ah, que giro…

Cabo Verde adoptou o crioulo como Língua nacional. Evidentemente, Lula não iria lá agradecer esse acto de rebeldia contra a “língua universau” brasileira. Porém, deve ter-se-lhe varrido (até porque nem as “seleções” nem os almanaques do Tio Patinhas referem miudezas dessas), seria bem mais expectável que tivesse aterrado no aeroporto do Sal para agradecer o (triste) papel a que os então dirigentes da Praia se prestaram ao ratificar, conjuntamente com São Tomé e Príncipe, o acordo cacográfico brasileiro — assim implicando todos os demais PALOP e levando Portugal pela trela.

Tenhamos fé em que os actuais dirigentes da dita Praia não caiam desta vez na tentação de uns fins-de-semana com tudo pago em Búzios, ou coisa que o valha. Cabo Verde tem uma longa tradição de imunidade às compras e vendas a pataco. E além da sua própria Língua nacional tem também — por consequência — uma Cultura riquíssima.

A terra de Cesária Évora, Sara Tavares ou Mayra Andrade, por exemplo, não merece o triste destino que alguns mercenários tugas lhe traçaram no papel.

Como diz Jéssica Pina, Cabo Verde é o «Que o peso das asas surpreende/ Volto ao centro e mostro o que sai de dentro/ P’ra onde tudo vai, não sigo/ Só fico onde ensaio, o paraíso».

Que dali venha, e depressa, um Vento Novo.

Lula agradece à África ‘por tudo o que foi produzido durante 350 anos de escravidão’

Declaração foi feita em Cabo Verde, ao lado do presidente José Maria Neves; petista se comprometeu a recuperar a relação do Brasil com o continente africano

www.estadao.com.br, 19.07.23
Por Sofia Aguiar e Caio Spechoto

BRASÍLIA – O presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) afirmou, nesta quarta-feira, 19, ter gratidão à África “por tudo o que foi produzido pelos 350 anos de escravidão” no Brasil. Ao lado do presidente de Cabo Verde, José Maria Neves, no País africano, o petista se comprometeu a recuperar a relação com o continente.

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Os portugueses de Portugal estão em risco?

É “professor catedrático convidado” na “Nova Business School of Business and Economics de Lisboa”[sic], a julgar pelo que se pode ler (em brasileirês, claro) no respectivo CV. Presume-se, dado o facto de o seu nome não estar em Inglês nem em brasileiro, que tenha passaporte português. Pois ninguém diria…

Isto é um brasileiro, só pode ser, de tal forma vinca a sua espécie de patriotismo ferrenho — ou verdadeiro nacionalismo — com tão vigorosas palavrinhas de eterna gratidão à sua pátria, o Brasil.

Devo confessar que nunca tinha lido coisa alguma esgalhada por este fulano — nem faço tensões de voltar a passar por tão excruciante provação — e também que nunca dele tinha sequer ouvido falar, nada, nadinha, nem a mais leve referência; o que aliás é estranho, deve ter sido distracção minha, isto ele há-de estar com certeza referido em inúmeras bibliografias de teses académicas (ah, pois, espera, é que eu cá não leio muito disso, são manias) ou ao menos numa série de artigos de jornal ou em blogs e assim ou, enfim, coisa que o valha. Parece que, além do Expresso, decerto igualmente como convidado, escreve num jornal lá da terra dele — em brasileiro legítimo — sobre temas tão variados como o futebol, o ambiente, a política em geral, os abusos sexuais em particular e outras “praias” verborreicas tão sortidas quanto, lá estou eu a presumir outra vez, maldito vício, divertidas.

Sobre o textículo do indivíduo, desta vez não sobre a bola, os votos, a cachaça ou o Cárnávau, pouco ou nada há a dizer. Não, pelo menos, como comentário — singelo ou por grosso. A saraivada de bacoradas sobre aquilo que em absoluto desconhece — a Língua Portuguesa, principalmente, mas também alguns rudimentos de História de Portugal e ainda, no essencial, os conceitos de decência, urbanidade e seriedade — resulta numa leitura extremamente penosa.

A sua peganhenta bajulação ao Brasil talvez consiga impressionar uma ou outra matrafona das escolas de samba em Portugal, caso alguma das ditas porventura saiba ler.

A sua agressiva obsessão por torcer a realidade até que os factos pareçam encaixar na narrativa laudatória — e claramente neo-imperialista — poderá talvez vir a ser “mérito” suficiente para que o brasileirista mais proeminente da “terrinha” lhe pendure uma medalhinha na lapela, à semelhança do que já sucedeu com a mulher do Lula, igualmente por méritos “culturais” (ou lá o que foi aquilo).

Por fim, a sua insuportável arrogância, que inúmeros tiques típicos dos pseudo-letrados denunciam, inviabilizam qualquer tipo de argumentação minimamente civilizada.

Fica evidentemente ao critério de cada qual, se isto ler, escolher qual a designação, quais os adjectivos qualificativos mais adequados para descrever, resumir, retratar (não confundir com retractar) ou pura e simplesmente escavacar o paleio deste “convidado”. Um módico de pudor e outro tanto de vergonha alheia impedem-me de escarrapachar aqui, por extenso, o que penso do dito e dos seus ditos. Mas palpita-me que os meus botões já devem estar fartos de ouvir palavrões.

O português de Portugal está em risco?

“Expresso”, 20 JULHO 2023

Rodrigo Tavares

Professor catedrático convidado na Nova SBE

A versão da língua falada em Portugal é cada vez mais portuguesa e menos global.

O primeiro compromisso do vice-presidente do Brasil na recente visita a Portugal foi um pequeno-almoço com CEOs de grandes empresas. Quando, na sua intervenção, um dos empresários com nome X fez alusão a uma outra pessoa que, coincidentemente, também se chamava X, o vice-presidente Geraldo Alckmin soltou espontaneamente “seu xará”. A maioria dos portugueses na sala não entendeu a interpolação do brasileiro.

A palavra xará é oriunda do tupi-guarani e significa “aquele que tem o meu nome”. É recorrentemente usada no Brasil. Depois da inhaca e da arapuca dos últimos quatro anos que deixou a democracia brasileira capenga e a economia na pindaíba, ouvir um novo cacique político de Pindamonhangaba a falar sem nhenhenhém nem deixar a peteca cair, cutucando aqueles empresários para investirem no Brasil, enquanto se comia um mingau naquelas cumbucas de porcelana, foi um alento.

São milhares as palavras de origem indígena usadas diariamente no Brasil e desconhecidas em Portugal. Os povos originários brasileiros falam cerca de 300 línguas diferentes. O mesmo acontece com milhares de palavras de origem africana, alemã, espanhola, japonesa e italiana levadas por imigrantes e escravizados.Poxa, já estou briaco com o chope” diz-me um amigo num português brasileiro que assimilou vocábulos castelhanos, italianos e alemães. Foi com ele que aprendi a palavra brasileira banzo, originária do quicongo africano, como substituto de melancolia ou saudades.

Desde a chegada das caravelas em 1500, os portugueses sempre foram estatisticamente minoritários. Entre 1880 e 1930 chegaram a São Paulo quase 4 milhões de imigrantes, a maioria italianos, japoneses e sírio-libaneses. Vivem mais descendentes de italianos em São Paulo do que em Roma. Mais descendentes de libaneses do que em Beirute. É também no estado de São Paulo que reside a maior comunidade de japoneses fora do Japão. No Sudeste e no Norte brasileiros, a língua portuguesa só se sobrepôs à Língua Geral Paulista (a língua dos mamelucos) ou à a Língua Geral Amazónica no fim do séc. XVIII. No início do século XX ainda havia falantes de Língua Geral em São Paulo.

Os idiomas dos 5 milhões de escravizados sudaneses, guineanos-sudaneses muçulmanos e bantus levados para o Brasil também foram parcialmente absorvidos pelo português brasileiro. Não houve necessidade de criarem crioulos africanos no Brasil, como aconteceu no Haiti (kreyòl), Jamaica (patwa jamaicano) ou nas Seychelles (kreolseselwa). Esta riqueza foi estudada por diversos linguistas e historiadores como Rosa Virgínia Mattos e Silva, Yeda Pessoa de Castro ou Marco Lucchesi.

O português brasileiro também conservou sonoridades, construções gramaticais ou vocabulários usados pelos portugueses nos séculos XVI-XIX, mas, entretanto, extintos em Portugal, como botar, safo ou açougue. Ou o uso de próclise (pronome antes do verbo), um dos elementos mais reconhecíveis do português brasileiro. N’Os Lusíadas são dezenas de exemplos, como “Te contei tudo quanto me pediste” (Canto V) ou “Agora tu, Calíope, me ensina” (Canto III).

O português brasileiro não é apenas um armazém de matérias-primas estrangeiras. Também é produtor. Os brasileiros constantemente criam e recriam léxicos, fonologias, sintaxes e morfologias que expressam a vitalidade das diversas sociedades que vivem naquele território. Uma muvuca comunicacional. Adoram perífrases, antonomásias e gerundismos. Por influência africana, por vezes economizam nos plurais (um pastel, dois pastel), não economizam nas vogais (“te-le-fo-ne” em vez de “tlfone”), usam a dupla negação (“não quero não”) ou variam na aplicação das regras de concordância nominal e verbal (“eu vi tu na rua ontem”). Algumas palavras também estão a ficar mais curtas (“independentemente” passa a “independente”, “para” passa a “pra”).

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Manual de Estupidologia Aplicada

Total de elementos no cartaz: 8. Do Brasil: caipirinha (Lima – em brasileiro, “limão”, cachaça, gelo). Capoeira. Tucano, instrumentos de percussão (samba ou “pagode”?)

Lá viriam com certeza, caso alguém lesse este “blog”, o que não é manifestamente o caso, as habituais “acusações” de “preconceito, racismo e xenofobia“. Assim, abençoado sossego, torna-se possível ir expondo por aqui algumas das mais espectaculares demonstrações de sabujice e bajulação de que vão dando bastas provas algumas figurinhas da tugaria — em esmagadora maioria pertencentes à classe política, mas havendo também que ter em conta outros tipos de perfeitos inúteis, por igual imbecis, gatunos, corruptos, parasitas e… estúpidos.

Aliás, sobre esta última, muito abrangente categoria, salvo seja, vem a propósito a transcrição do texto em baixo, publicado há dias no “ContraCultura“. Perdoará o autor a ousadia — de resto, habitual e rotineira aqui no Apartado — de ter aproveitado algumas “deixas” para inserir, quando a propósito, ligações a “posts” anteriores.

De facto, genericamente falando, o #AO90 será talvez o facto político e a demonstração prática que melhor ilustra o conceito de estupidez pura e dura. Se bem que por detrás das tais figurinhas estejam outros seres ainda mais sinistros do que os “apenas” estúpidos, ou seja, aqueles cuja ganância cegou por completo — logo à nascença, como o estúpido comum, ou então assim que viram a mina que poderia ser a língua “universau” brasileira — e aqueles outros que se limitam a obedecer à voz do dono, alguns dos quais até com extrema competência, como os profissionais da desinformação, os infiltrados nas hostes ditas “anti-acordistas”, os bufos, os homens-de-mão, os mercenários, os indefectíveis da “brasileirofonia”, os infames lacaios da traição.

Não será de todo um luxo nem de somenos manter algum tipo de vigilância, no entanto, sobre aqueles que são “apenas” estúpidos, ou uns “simples”; manter debaixo d’olho os pobres-diabos, cuja exiguidade em massa cinzenta acarreta por regra não poucos danos — por exemplo, como no caso do “festival” de Isaltino (imagens no topo e em rodapé) — em matérias para eles tão irrelevantes como a Cultura, a História e, evidentemente, a Língua de Portugal.

Consideremos então os seguintes como sendo uma espécie de 10 novos mandamentos. No fundo, para combater a estupidez (porque travá-la é de todo impossível) só pode a gente munir-se de muita paciênc… humild… tenacid… enfim, fé. Haja fé. Imensa fé.

contra-cultura.com, 19 JUL 23
Paulo Hasse Paixão
contacto@contra-cultura.com

Como travar o avanço da estupidez: manual de normas.

Um dos problemas fundamentais da civilização, senão o principal obstáculo ao sucesso da sua prossecução, é a estupidez, e desde que Adão, estupidamente, foi na conversa da Eva – uma estúpida – as coisas começaram a correr mesmo muito mal. A questão central coloca-se quando pessoas inteligentes acham que nascemos todos iguais quando é por demais evidente que há uns que nascem mais estúpidos que outros. Estes últimos podem ser estupidificados no decurso da existência (por consumo abusivo do telejornal ou desperdício de euros no Expresso, por exemplo), para acabarem por morrer tão estúpidos como aqueles que já nasceram assim e por isso devemos aplicar princípios universais e equitativos aos estúpidos genéticos tanto como aos estúpidos culturais.

Podemos até aceitar o princípio de que todos somos iguais perante Deus, mas conviver com a ideia de que estúpidos e não estúpidos são iguais entre si é de uma estupidez imperdoável, com graves consequências sociais, económicas e políticas.

Neste sentido, o ContraCultura deixa um breve manual de normas para lidar com a estupidez humana, que não deve ser entendido como definitivo – precisamente por ser breve e porque a estupidez é uma espécie de vírus em constante mutação – mas que propõe um conjunto de medidas práticas e acessíveis a qualquer pessoa inteligente, de forma a melhor combater um dos mais devastadores flagelos da história universal.

INunca subestime um estúpido. A estupidez é na verdade e lamentavelmente o grande motor do circo do mundo, e está na origem da maior parte dos mais catastróficos acidentes da história da humanidade. Se há um desastre, uma guerra, uma peste, uma praga, uma chacina, uma vergonha, uma desgraça qualquer, num dado momento do tempo, o evento tem grandes probabilidades de ser resultado da actividade imbecial de um estúpido que não sabe de todo o que está a fazer e isto leva-nos à segunda norma, que é:

IIUm estúpido nunca sabe o que está a fazer, pelo que deves retirar-lhe todas as competências autónomas. É triste e muito perigoso que as pessoas que não são estúpidas sejam preguiçosas, ou irresponsáveis, ao ponto de atribuir tarefas aos estúpidos, ou confiarem neles. Não se pode confiar no estúpido porque é impossível determinar quando é que ele vai fazer algo de néscio, sendo certo que o fará no pior momento possível.

IIINão tenha pena do estúpido. Um estúpido é um bruto e deve ser tratado adequadamente. Um dos erros mais frequentes das pessoas que não são estúpidas é o de se apiedarem dos estúpidos. E se podemos argumentar que os que nascem estúpidos não têm culpa de serem assim, aqueles que ficam broncos depois de terem nascido são directamente responsáveis por esse ganho em idiotia. Além disso, dentro dos que nascem estúpidos não há um só exemplo histórico de alguém que tenha deixado de o ser, pelo que aqui descortinamos o crime da impenitência: o estúpido é radical e convictamente estúpido e nunca vai procurar redenção. Acontece ainda que uma boa fatia dos seres humanos que sobrevivem à superfície deste planeta pertencem à classe dos estúpidos e não há na condição humana misericórdia que sobre para tanta gente. Os que não são estúpidos estão demasiado ocupados a solucionar os problemas que os estúpidos criam, pelo que, a propósito:

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“No escuro”: imigração, advogados, redes

Diz a imprensa que “mais de 93 mil da CPLB” (com o truque da troca do B pelo P) obtiveram autorização de residência em Portugal — ou seja, livre-trânsito para a Europa — em apenas um mês. O que resulta numa média de 3.100 por dia. Chamam-lhes “imigrantes lusófonos”, porque para puxar o lustro à jogada a adjectivação aportuguesada (portuguesa, lusitana, lusofónica) dá imenso jeito; e dizem que, desses 93 mil, «a maioria são brasileiros».
E que maioria! Entre 51%? e 99%, a quanto monta, ao certo, essa maioria? Bem, se nos fiarmos nos números oficiais, «os nacionais do Brasil representam, até ao momento, 86,5% dos pedidos de autorização de residência CPLP, seguidos dos cidadãos de Angola, com 3,8%, e de São Tomé e Príncipe, com 3%.» [postTrês mil e cem por dia”]

Tudo sob o manto opaco da aparência — o #AO90, a “língua universau” brasileira, a sua “difusão e expansão“.
Serão “apenas” 10% dos advogados? Porquê só dos advogados? Não será a percentagem, também ela, “universau”, “globau”, “gêrau”? Quantos por cento, ao certo, tocam a médicos, professores, jornalistas, nómadas digitais, “atores” e outros artistas, comediantes, “magos” da bola (incluindo no Isscrétchi B, a “seleção nacionau”), mestres em milagres e em dízimas (Jisuiss isstá prêsêntchi, álêluiá) ou até especialistas em “amarração”, “desquitagem” e outras maleitas do “isspiritu” que só se resolvem indo à bruxa? 10%. Dez por cento. Um em cada dez. And counting. [postSob o manto opaco da aparência, a crueza forte do silêncio]

Advogado denuncia empresas por procuradoria ilícita com brasileiros em Portugal

Global Media Group
DN/Lusa
dn.pt, 15.07.23

O advogado luso-brasileiro Bruno Gutman denunciou, nos últimos três meses, ao Conselho regional do Porto da Ordem dos Advogados portugueses 17 entidades que alegadamente desenvolvem procuradoria ilícita a brasileiros que querem emigrar para Portugal.

Segundo o advogado, trata-se de entidades que fazem apelo à imigração ilegal.

“Eu comecei a procurar e vi que apareciam ofertas de serviços, que mais do que uma procuradoria ilícita, também configuravam muitas vezes um suporte à imigração ilegal”, afirmou o advogado, numa entrevista à Lusa.

Por isso, decidiu denunciar “porque se não houver denúncia, não pára“, alertando que isto é um problema para quem quer vir para Portugal “com muitas ilusões de vida”.

Bruno Gutman explicou que a Ordem dos Advogados tem estado a receber estas denúncias e a prosseguir com as investigações, pelo menos no conselho regional do Porto, com quem fala directamente.

Segundo o advogado, há gente que se faz passar por advogados e promete tratar de tudo para quem quer emigrar sem ter condições.

Na conversa com a Lusa, Bruno Gutman sublinhou que este mundo da procuradoria ilícita para brasileiros “é como um poço sem fundo”, em que quanto mais se investiga mais aparecem alegadas empresas do género.

Pelo que deixa um apelo a outros advogados, principalmente aos brasileiros residentes em Portugal, para que apresentem denúncias.

“Quanto mais pessoas denunciarem melhor, porque a ordem também inicia as investigações, toma as providências cabíveis. E muitos dos casos chegam inclusive ao SEF [Serviço de Estrangeiros e Fronteiras] e devem chegar, porque há esses casos de auxílio à imigração ilegal”, sublinhou.

“Isso tem de ser investigado a sério, tem de ser levado a sério, para que possamos ter uma imigração correcta de pessoas que precisam e querem melhorar as suas vidas”, frisou.

Para o advogado, o importante é que os seus compatriotas “emigrem com qualidade, que venham correctamente com os vistos necessários”.

“E para que consigam cá estabelecer-se em imóveis que existem”, afirmou em tom irónico, e numa alusão àqueles que já foram burlados em milhares de euros, que entregaram dinheiro a desconhecidos mediante a promessa de quando cá chegassem terem casa, mas quando chegaram não tinham nada.

Para Gutman, este tipo de problemas acontece maioritariamente com as pessoas em maior situação de vulnerabilidade, o que torna tudo ainda mais complicado.

O advogado luso-brasileiro, com mais de 20 anos de profissão e há quatro a viver em Braga, dedica-se precisamente a questões ligadas à comunidade luso-brasileira.

Além de advogado, Bruno é também director da Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior, a Funcex, para a Europa.

Em Braga existe uma das maiores comunidades brasileiras em Portugal, por isso o advogado depara-se com muitas questões dos imigrantes do seu país naquela cidade, uma migração que, na sua opinião, tem sido “muito forte” para Portugal a partir de 2017.

“Vida muito corrida, muito trânsito e violência urbana” foram os motivos que o fizeram deixar a grande cidade brasileira do Rio de Janeiro, de onde é oriundo, mas onde já só conseguia andar com a família num carro blindado.

Lá o nosso carro já era à prova de bala. Eu fui assaltado duas vezes com arma apontada à cabeça e a minha esposa quatro”, contou à Lusa.

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