Notícias de Macau

Universidades de Macau e Hong Kong assinam memorando de cooperação

2024-01-10

A Universidade Politécnica de Macau e a Universidade HangSeng de Hong Kong assinaram, hoje, um memorando de cooperação para promover a cooperação na área do ensino superior.

As duas universidades vão passar a cooperar nas áreas de projectos académicos, inovação da investigação científica e formação de quadros qualificados.

As duas instituições de ensino superior iniciarão a comunicação, o intercâmbio e a cooperação de docentes e investigadores e de estudantes, bem como o desenvolvimento de projectos académicos, de investigação científica, de formação, incluindo formação de talentos, e a organização de conferências académicas.

Felizbina Gomes diz que Medalha de Mérito é reconhecimento importante da língua portuguesa

2024-01-11

A Directora do Jardim de Infância D. José da Costa Nunes considera que a Medalha de Mérito Educativo atribuída pelo Governo é um reconhecimento importante da presença da língua Portuguesa em Macau. Felizbina Gomes sublinhou ainda o aumento do número de alunos de origem chinesa, que representam já cerca de 70% do total de inscritos.

Tradutor da Universidade Politécnica é o mais fiável entre as línguas portuguesa e chinesa

2024-01-11

A base de dados de textos da Universidade Politécnica utilizada para a Inteligência Artificial é a maior base de dados bilingue do mundo. De acordo com os responsáveis do Centro de Investigação dos Serviços de Educação Aplicados em Tradução Automática e Inteligência Artificial, foram arquivados dezenas de milhões de textos em português e chinês.

Alguns dos posts anteriormente aqui publicados sobre a Língua Portuguesa em Macau

«Luso-descendentes asiáticos criticam CPLP»
O bloco terá representantes da Malásia (Malaca), Índia (Goa, Damão e Diu), Sri Lanka, Singapura, China (Macau), Tailândia (Banguecoque), Austrália (Perth), Indonésia (Jacarta, Ambon e Flores), Timor-Leste e Myanmar. [“Hoje Macau”]
Macau, o honorável enclave
Português | Governo avança com fundo de financiamento este ano [“Hoje Macau”]
“Chapas Sínicas” no Registo da Memória do Mundo
Os mais de 3600 documentos que compõem as Chapas Sínicas e que falam das relações entre Portugal e Macau são agora parte do património documental da humanidade. A decisão foi ontem aprovada pela UNESCO, meses depois da candidatura [“Hoje Macau”]
Macau não adopta o AO90?! Malaca Casteleiro amua…
Acordo Ortográfico, um “não-assunto” mas que já se vai ensinando [LUSA/”Notícias Ao Minuto”]
AO90, o verdadeiro negócio da China
Macau pode ajudar empresas da China a expandirem-se nos países de língua portuguesa [Macauhub]
Portugal e (C)PLP “vão ajudar” à internacionalização da moeda chinesa
Renminbi | Portugal e PLP “vão ajudar” à internacionalização da moeda chinesa [“Hoje Macau”]
Mais negócios da China
Secretária-geral pede maior cooperação com sector privado [Fórum Macau]
“A Língua Portuguesa nas suas múltiplas vertentes”
Lusitanistas reunidos pela primeira vez a Oriente para afirmar o papel da língua portuguesa [“Ponto Final” (Macau)]
“Das várias variantes da língua portuguesa”
Curso de Verão de língua portuguesa termina com avaliação “francamente positiva” [“Ponto Final” (Macau)]
Patuá Sâm Assi
Patuá, a língua que Macau deixou ‘morrer’ a troco de “dinheiro fácil [“Jornal Económico”]
Macau é “activo indispensável” na promoção do português
Macau é “activo indispensável” na promoção do português [“Ponto Final” (Macau)]
Português correcto em Macau

Um Acordo, Dois Sistemas [TDM Canal Macau]

Negócios da China
Primeira faculdade de português na China quer aprofundar conhecimento sobre os países lusófonos [Universidade do Porto]
Macau põe a língua de fora
Português | Criticada falta de meios e traduções tardias [“Hoje Macau”, 2 Mar 2023]
Macau, outra “plataforma” do Brasil?
Uma delegação da Universidade Politécnica de Macau visitou diversas instituições do ensino superior do Brasil para promover a “Zona de Cooperação Aprofundada” e a “Zona da Grande Baía” aprofundando a cooperação em inovação e empreendedorismo [Universidade Politécnica de Macau (UPM)]

«Desdém, preconceitos e complexos» [por Paulo Martins]

A independência do Brasil ainda não está terminada, e eu nem sequer imaginava!

A propósito do dia da independência do “Brásiu”, a 7 de Setembro, o molusco presidente do dito país, L. I. Lula da Silva, proferiu uma afirmação absurda numa comunicação vídeo consagrada ao acontecimento.

Para lá da desconcertante falta de senso, a tirada suscita-me espanto devido à estranheza da proclamação! Diz o molusco, anteriormente condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, além do envolvimento em outras caldeiradas já descritas no Apartado 53, que “a independência do Brasil ainda não está terminada”. A sério, 201 anos depois!? É de pasmar a admissão de tamanha apatia e notável inépcia demonstrada para a conclusão do processo, além da extrema inabilidade para construir um país independente! Parece-me claramente um exagero a independência não estar terminada passados mais de dois séculos.

Ainda que Lula aluda no seu monólogo a outras ideias consubstanciadas em pilares, a saber: democracia, soberania e união que, segundo ele, irão concretizar a tão postergada independência, a escolha de palavras é, no mínimo inapropriada, já que este – assevera a História – é um processo concluído, consolidado e verificável; se não, vejamos, o Brasil é independente desde 7 de Setembro de 1822 e, ainda que relativamente jovem, é um estado soberano e reconhecido como tal pela comunidade internacional. A construção de um país melhor e de uma sociedade mais justa e equitativa, pelo menos para mim, não se confundem com a independência efectiva e reconhecida desde 1822, como é o caso da brasileira. Que idiotice!

Lula da Silva “Doutor” Honoris Causa pela Universidade de Coimbra — Março 2011

Tudo isto aparenta ser mais um exercício da nada original, enfadonha e facciosa lengalenga vitimista da colonização portuguesa, repetida ad infinitum pelos brasileiros que, segundo estes (ainda que nem todos), causou tanto mal de que o “Brásiu” ainda padece e padecerá nos séculos vindouros e do qual nunca irá recuperar. Tudo por culpa de Portugal, what else, que não fundou nenhuma universidade no “Brásiu”, etc. etc. Já agora, não seria bom retirar a Lula da Silva o título de doutor Honoris Causa atribuído apenas por razões políticas pela Universidade de Coimbra, uma vez que foi condenado na justiça e cumpriu pena de prisão efectiva?

Mas, no que a independência do “Brásiu” diz respeito há, contudo, uma dimensão que Lula negligenciou na sua comunicação: a independência linguística, pela qual deveriam Lula e os brasileiros pugnar. Seria o culminar da tão adiada e inatingida independência brasileira.

O que a maioria dos portugueses já sabe, e que outros fingem não saber é que a língua falada e escrita no Brasil não é o português. Sim, repito, a língua do Brasil não é a Língua Portuguesa, é o brasileiro, brasilês, brasileirês, brasiliense, brasiliano, ou que lhe queiram chamar os brasileiros, mas português não é de certeza.

Historicamente, os brasileiros sempre demonstraram desdém, preconceitos e complexos relativamente à Língua Portuguesa, assim como também sempre manifestaram desprezo pela cultura portuguesa em geral, especialmente ao nível das elites. Não é demais relembrar a acção de Edgard Sanches, um intelectual e parlamentar brasileiro, proponente no Congresso Nacional brasileiro da alteração legislativa do nome da Língua Portuguesa no Brasil para língua brasileira. Infelizmente, por diversas vicissitudes, tal não sucedeu. A acção dessas elites consistiu em degradar e vilipendiar a Língua Portuguesa em terras brasileiras até chegar ao que ela é hoje: um dialecto (chamemos-lhe assim) caótico, cacofónico e agramatical, em suma um “favelês” brasileiro, uma língua já estruturalmente diferente da Língua Portuguesa! Que o diga o professor Ivo castro: “a separação estrutural entre a língua de Portugal, a do Brasil e a dos países africanos é um fenómeno lento e de águas profundas, que muitos preferem não observar.”

Sugiro que o Brasil deve lançar, isso sim, uma ofensiva diplomática para promover a língua brasileira no mundo e na ONU, em vez de se servir do nome da Língua Portuguesa para o fazer, contando ainda com a conivência da traiçoeira classe política e dirigente de Portugal, levando a cabo efectivamente uma política de independência linguística e nomear de uma vez por todas e definitivamente a língua que se fala e escreve no Brasil como “brasileiro” ou outra coisa qualquer. É minha convicção que aquilo que tem travado essa iniciativa é a crença de muitos brasileiros que, a partir do momento em que o “português brasileiro” passasse a ser apenas “brasileiro”, a sua língua não seria mais do que um crioulo afro-ameríndio, retendo apenas alguma vaga semelhança com o português, uma língua de raiz indo-europeia.

Seja como for, parece que a “descolonização linguística” está na moda, principalmente no que à Língua Portuguesa diz respeito. Sendo assim, porque não um impulso de independência linguística por parte do Brasil? Há algum tempo, uns quantos idiotas lembraram-se de propor a ideia tonta de organizar um colóquio subordinado à descolonização da Língua Portuguesa, tal como foi relatado aqui. E pasme-se, até já existe um dicionário da Língua Portuguesa “descolonizada”!

Por cá, seria da mais elementar higiene política o afastamento face a Lula da Silva e também face ao “Brásiu”, viu, uma vez que é plenamente independente, ainda que o “prêsidentchi dá República Fêdêrátchiva do Brásiu” o negue. É deveras insólita e incompreensível a paixão que Marcelo, Costa e mais alguns nutrem por um ex-presidiário, condenado pelos crimes acima descritos, sendo o AO90 um dos filhos deste “coito danado”. E ainda é mais insólita a maneira como defendem os interesses brasileiros, sacrificando alegremente os interesses portugueses. O recente périplo do presidente brasileiro pelos países de língua portuguesa mostra a esperteza e as manhas de Lula e os objectivos do Brasil relativamente ao espaço lusófono.

O que está em causa é o futuro da Língua Portuguesa e do país. Os resultados da brasilofilia doentia têm sido descritos e são perceptíveis quotidianamente por todos nós. Sei que a minha preocupação é também a preocupação de muitíssimos outros portugueses que não se conformam com o AO90 e toda a trama criminosa que lhe subjaz. Quanto à Língua Portuguesa, não a queremos vulgarizada, preferimos a qualidade em detrimento da quantidade de falantes. A falácia do “império linguístico de 300 milhões de falantes” ou coisa que o valha não passa de uma ilusão ingénua alimentada por interesses escusos.

Paulo Martins


A transcrição deste texto, remetido por e-mail pelo autor, reproduz exacta e integralmente o original, incluindo alguns links e o vídeo. Acrescentei alguns outros links e introduzi as imagens.

É o viu metau

If money go before, all ways do lie open. - William Shakespeare
[Se o dinheiro é o que mais importa, a mentira abre qualquer porta.]

De facto, genericamente falando, o #AO90 será talvez o facto político e a demonstração prática que melhor ilustra o conceito de estupidez pura e dura. Se bem que por detrás das tais figurinhas estejam outros seres ainda mais sinistros do que os “apenas” estúpidos, ou seja, aqueles cuja ganância cegou por completo — logo à nascença, como o estúpido comum, ou então assim que viram a mina que poderia ser a língua “universau” brasileira — e aqueles outros que se limitam a obedecer à voz do dono, alguns dos quais até com extrema competência, como os profissionais da desinformação, os infiltrados nas hostes ditas “anti-acordistas”, os bufos, os homens-de-mão, os mercenários, os indefectíveis da “brasileirofonia”, os infames lacaios da traição.
[“Manual de Estupidologia Aplicada”]

Um dos últimos “posts”, aqui no Apartado, parece ter suscitado alguma controvérsia entre algumas pessoas ligadas à Causa anti-acordista. Pelo menos num grupo do Facebook e num “blog”, o título “O que faz correr os acordistas?” dividiu de alguma forma as opiniões, variando estas das coisas mais evidentes, como a estupidez pura e dura, a ignorância, a irresponsabilidade, a mediocridade, até às explicações mais subtis ou complexas: “medo de ferir as susceptibilidades do governo brasileiro”, por exemplo, ou ainda a disseminação da iliteracia em Portugal.

Evidentemente, nenhum dos “diagnósticos” está sumamente ou sequer vagamente errado, bem pelo contrário; a “adoção” do #AO90, todo o processo, todo o plano arquitectado em 1986 e consolidado — até ao mais ínfimo pormenor — em 2008, não teria quaisquer hipóteses de medrar (ainda que sem vingar) se não contasse a priori com a mais do que provável mediocridade dos arrivistas e traidores, com a atávica ignorância de «um povo imbecilizado e resignado, humilde e macambúzio, fatalista e sonâmbulo» e sem o consequente espírito de manada de uma maioria esmagadora à qual apenas interessa não se meter em aborrecimentos.

É de facto a este estado de coisas, um statu quo amorfo, dir-se-ia comatoso, que podemos assacar não a responsabilidade mas apenas a permissividade, a gélida indiferença com que não foi enfrentado o assalto à Cultura portuguesa, à nossa identidade colectiva e ao âmago do nosso património — a Língua Portuguesa.

Ora, mesmo aceitando ou sabendo perfeitamente que assim é e assim continua a ser, estas ilações óbvias não explicam tudo. Quando muito, passam uma tangente ao essencial.

Num dos comentários à partilha do “post” referido no Facebook, lê-se o seguinte:

«Mais do que o que possa fazer correr os acordistas, é compreender a rendição de empresas e pessoas ao AO90. Quais os motivos concretos e realistas que os leva a apoiar o infame sem o questionar ou regatear. Isso sim, é o maior mistério, para mim.» [Paulo Teixeira]

Cá está. Se a construção frásica da segunda parte do comentário tivesse sido em forma de pergunta, então a resposta estaria contida na frase inicial: os motivos concretos e realistas que fazem correr os acordistas, o que explica a “rendição de empresas e pessoas” e o que leva estas a “apoiar o infame sem o questionar ou regatear” é… o dinheiro. Chama-se-lhe o que se quiser, pilim, poder, tachos, cacau, ferros, guita, ou simplesmente “aparecer”, tudo vai dar sempre ao mesmo, o dinheiro, o vil metal (“viu metau”, em brasileiro).

Sobre “especialistas” (alguns dos quais se intitulam a si mesmos como “académicos” e “linguistas” e até “juristas” ou mesmo “constitucionalistas”), já muito foi dito, aqui no Apartado e em outros sítios, incluindo jornais. Quem são eles, bom, todos sabemos isso perfeitamente, e conhecemos até as conivências político-partidárias, logo, as coligações e alianças de interesses — económicos, bem entendido, que a isso se resume a porca da política. Este tipo de constatações, que nem os próprios envolvidos se atrevem a desmentir, poderá ainda assim, dada a enormidade da corrupção e o gigantismo da podridão, levantar algumas dúvidas ou perplexidades.

Mas sobre as empresas, que diabo, então não se está mesmo a ver como funciona o carneirismo acordista? É que não é carneirismo coisa nenhuma, é a obediência à voz do dono!

Continue reading “É o viu metau”

Colagem “universau”

Artigo 15.º

O estatuto de igualdade será atribuído mediante decisão do Ministério da Administração Interna, em Portugal, e do Ministério da Justiça, no Brasil, aos brasileiros e portugueses que o requeiram, desde que civilmente capazes e com residência habitual no país em que ele é requerido. [Estatuto de Igualdade]




Continue reading “Colagem “universau””

A “escravização” do Principado da Pontinha (e do Brasil, claro)

Dom Renato I, Príncipe do Principado (nem de propósito) da Pontinha
Daqui do Apdeites, muito sinceramente o dizemos, apelamos a Sua Alteza para que reconsidere, isto é, olhe, ó nosso Príncipe, caramba, vossa senhoria bem vê, nós até lhe pespegámos aqui o comunicadozinho do ano passado, hem, veja lá isso, companheiro, pronto, se tiver de ser, paciência, mas veja se consegue dar um jeito, evitar aqui o estaminé, não custa nada, é só desviar a mira um bocadinho, enfim, faça Vossa Alteza o favor de não nos mandar com “anti-matéria” para cima, porque isto aqui é tudo pessoal bacano, defensores indefectíveis da causa do Principado da Pontinha, todos amicíssimos de D. Renato I e das suas justíssimas pretensões.
[Apdeites – “A III Guerra Mundial é já a seguir”, 01/08/2008]

O que se há-de fazer? É uma fatalidade, um fado. O que mais há por aí é portugueses com “síndrome do colonizador”. A paranóia — ou obsessão ou monomania — está de tal forma arreigada no espírito do chamado “português médio” que dir-se-ia estarmos perante um caso evidente, iminente, perigosamente patológico; para o qual, aliás, dado o enorme número de afectados, não seria possível arranjar em tempo útil um contingente de psiquiatras e outros especialistas em afecções na caixa dos martelos, como carinhosamente diz o povo; ainda que se importassem uns quantos contentores cheios desses profissionais, nem pondo toda a indústria nacional a trabalhar 24 sobre 24 horas no fabrico de sofás seria possível deitar tantos pacientes a debitar suas lamúrias, expiando a “culpa” de Portugal por ter-se atrevido a fazer alguma coisa decente — o que para os padrões actuais da tugaria é absolutamente inadmissível, um pecado horrível.

Claro que para este quadro clínico generalizado em muito contribuem outros fenómenos, igualmente ou ainda mais destrambelhados, como, por exemplo, a viciosa fixação no “gigantismo” (em espécie e em contado) do Brasil que vão revelando amiúde o governador-geral do 28.º Estado e o respectivo governo provincial. Acresce ainda a bovina admiração geral por tudo aquilo que sequer cheire a brasileiro, do futebol às telenovelas, passando pelos rodízios e pela extrema sageza intelectual de um Lula ou de um (ou dois) Tiririca.

É, portanto, neste caldo infecto que estão mergulhados os portugueses em geral e as pessoas decentes em particular, ainda para mais tendo de levar com as constantes queixinhas dos emigrantes brasileiros em Portugal, estudantes ou não, diplomados ou não, completamente analfabetos ou nem tanto.

Entalados entre a lusofobia de uns e a bajulação de outros, assistindo — por regra, mudos e quedos — à terraplanagem cultural, ao esmagamento da Língua nacional, a neo-colonização invertida, ao neo-imperialismo que já ninguém se rala a disfarçar, os portugueses vergastam-se metodicamente.

O texto agora transcrito é uma pequena amostra de todas essas confluências. O tom é tímido, hesitante, como o de um pobre de pedir que ousa aproximar-se de um “senhor”, o chapéu na mão, a espinha curvada, balbuciando desculpas pelos supostos “defeitos” de que o dito “senhor” o acusa… ou, se não acusa, vai acusar com certeza.

Quem sabe se um dia não dará afinal D. Renato I algum jeito. Talvez, depois de resolvidas as minudências com a GNR em que está metido, sirva a sua figura (imponente, como se vê na foto) para recordar o que foi em tempos uma coisa que se chamava Portugal. Quanto mais não seja, as gaivotas que habitam no Principado da Pontinha ficarão cientes desse passado glorioso.


Descobrir os Descobrimentos

Leonídio Paulo Ferreira

 

A luso-americana Deana Barroqueiro, uma romancista que sabe muito sobre história dos Descobrimentos, deu uma entrevista ao Diário de Notícias que teve um título forte, mas perfeitamente sustentado pelas sucessivas respostas: “Os bem-pensantes querem reduzir os Descobrimentos à escravatura, fazendo tábua rasa de tudo o resto”. Foi um sucesso de leitura na edição online do jornal, o que confirma o enorme interesse que a História de Portugal continua a suscitar. Aliás, é esse interesse que também ajuda a explicar a carreira de sucesso da autora, que agora acaba de republicar um livro sobre Bartolomeu Dias, o navegador que em 1488 cruzou o extremo-sul de África, ao qual chamou Cabo das Tormentas, mas depois D. João II preferiu baptizar como Cabo da Boa Esperança.

Se o título da entrevista se referia à polémica que procura tornar os Descobrimentos uma espécie de sinónimo de escravatura, parte das reacções vieram criar outra polémica, desmentindo mesmo que tenha havido Descobrimentos, pois a maioria das terras estavam já habitadas. Ficaria assim o conceito de Descobrimentos, argumentam alguns, aplicado a meia dúzia de arquipélagos, como o dos Açores ou o da Madeira, desabitados aquando da chegada das primeiras caravelas.

Com a devida vénia, cito aqui uma das respostas de Deana Barroqueiro como uma boa definição do que os Descobrimentos foram, de facto : “Os Descobrimentos Portugueses – e Espanhóis – com todos os seus defeitos, levaram o conhecimento do Ocidente para o Oriente e vice-versa, fazendo, além disso, a primeira globalização da Época Moderna, que provocou uma espantosa revolução, progresso e transformação do mundo, que já não voltou a ser o mesmo, não só a nível das Ciências, mas também das Artes, das Letras, das técnicas e das mentalidades. E, acima de tudo, na alimentação e na culinária dos povos contactados, que se enriqueceram com a troca dos produtos (e as receitas dos nossos pratos) que os portugueses levaram da Europa, mas também do Novo Mundo (Brasil), para África e Oriente, e que trouxeram de lá para cá. Portugal estava à frente de todas as nações europeias, no período dos Descobrimentos, com saberes não só teóricos, mas de experiências feitos. Tínhamos os melhores cientistas – geógrafos, astrónomos, cartógrafos, biólogos, físicos [médicos], boticários [farmacêuticos], engenheiros e inventores, construtores de navios, historiadores, letrados, entre outros. As suas obras, copiadas pelas nações europeias mais avançadas, desfaziam mitos, superstições e ignorância, consagrados durante toda a Idade Média, abrindo as mentalidades para uma nova era de Conhecimento, apoiado em provas dadas pela experiência de muitos, pela descoberta de mundos e povos desconhecidos, em zonas que se julgavam inabitáveis, pela nova configuração dos continentes, desenhados milha a milha pelos nossos navegadores nas suas cartas de marear, que os espiões estrangeiros procuravam obter a todo o custo.”

Entre os tais “defeitos” está a escravatura, sem dúvida, sobretudo o tráfico negreiro transatlântico que os portugueses iniciaram no século XV e os brasileiros, já independentes, praticaram até bem dentro do século XIX. É um legado pesado, que merece reflexão, sendo certo que a escravatura marcou a humanidade em todas as épocas e latitudes até ao extraordinário triunfo do movimento abolicionista.

Descobrir foi um processo em dois sentidos. Lembro uma conversa em Nagasáqui em que japoneses me recordaram que graças aos portugueses descobriram o mundo. Um pouco a ideia que já vi defender um dos nossos mais prestigiados historiadores, João Paulo Oliveira e Costa, quando diz que os Descobrimentos fizeram os europeus descobrir o que havia longe e os que lá viviam e aos que viviam longe descobrir os europeus, na realidade fazendo o mundo auto-descobrir-se, pois antes das caravelas portuguesas e espanholas não havia sequer noção do que era.

Nisto de Descobrimentos, e para ajudar a perceber o conceito, sublinho sempre que a historiografia portuguesa nunca reivindica a descoberta da Austrália, por muito que seja provável (e até possam existir provas) de visitas ou avistamentos da costa norte no século XVI, muito natural para quem chegou a Timor. Não houve descoberta da Austrália pelos portugueses pois a gigantesca ilha não entrou nessa época na pioneira globalização iniciada com Vasco da Gama. Dizer que descobrimos a Austrália seria como dizer que os vikings descobriram a América. Nunca se tratou apenas de chegar a um sítio – fosse a Madeira ou o Japão -, mas sim de esse sítio, e as suas populações havendo-as, passarem a estar em contacto com o resto do mundo.

Estude-se os Descobrimentos. Ou então leia-se um bom romance por eles inspirado. Critique-se o que houver a criticar, mas não se negue o óbvio: foram um momento de transformação do mundo, é impossível pensar o mundo de hoje se não tivesse havido Descobrimentos. Parabéns Deana Barroqueiro pelos belos livros que tem escrito, parabéns também pela entrevista informada e frontal.

Leonídio Paulo Ferreira – Director adjunto do Diário de Notícias

[Transcrição integral. Cacografia brasileira corrigida automaticamente. Destaques e “links” meus.
Foto do “Príncipe D. Renato Barros I” de: Joana Sousa / ASPress (“Correio da Manhã”).]