Operação coração (1990-2022)

https://www.dn.pt/sociedade/coracao-de-d-pedro-no-brasil-causa-polemica-e-memes-oposicao-questiona-viagem-15113362.html

Retórica. Pura retórica. Fulanos como este “diretor” da Câmara de Comércio e Indústria Luso-Brasileira limitam-se a tentar embelezar uma coisa muito feia — por definição, os negócios — com um palavreado que acham “muito lindinho”. Para o efeito, utilizam uma triste macaqueação daquilo que julgam ser o “estilo” das pessoas que sabem escrever. O resultado, como mais uma vez se verifica e comprova, é sumamente confrangedor.

O indivíduo, por inerência de funções enterrado até ao garruço nas negociatas da brasileirofonia (“lusofonia”, para os crentes), papagueia um estendal de loas e encómios à “terrinha” — enquanto diminui e amesquinha Portugal o mais que pode: destila mimos como «país pequeno e demasiado envelhecido» e reduz “isto” a «quadras de vôlei de praia» onde «só falam de Jorge Amado» e a «praias e ruas de Cascais» que «só declamam Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Moraes».

Christiaan Neethling Barnard was a South African cardiac surgeon who performed the world’s first human-to-human heart transplant operation. Wikipedia

A pretexto da recente viagem do miocárdio e adjacências de D. Pedro IV, este jogral pós-modernista escreve um textículo sobre o pretenso “amor” que tugas dedicam a zucas e, “portanto”, usando para o efeito a velha escola romântico-viscosa, conclui que esse “amor” está depositado ou aloja-se algures na abstracção de um coração concreto (além de ligeiramente morto). Mas que belas imagens, realmente, olha que isto sim, senhor, é d’homem: ai, o amor, o amor, ai o coração, aiai. O “amor” que, note-se, “apenas” refere por quatro vezes enquanto que o substantivo “coração” merece nada menos do que 22 (vinte e duas) menções expressas — bem, é de mestre. Realmente, num texto sobre o coração do Rei português que anda em bolandas pelos brasis, nada mais cirúrgico, verbal e estilisticamente falando, do que — por entre golpes de inatacável lógica da batata e de avassaladora paixão pela palavra — associar amor a coração à razão de 4 para 22… mais ou menos. Será essa, portanto, talvez factorial de 88, a relação algébrica formulada para demonstrar o resultado do inamovível afecto do lado de cá pelo lado de lá e da esmolinha que de lá para cá nos chegará (segundo o autor) sob a forma de algum “afeto” em troca.

Tal litania de insuportável condescendência ameaça seriamente transformar-se no paradigma daquilo a que em Português se chama vulgarmente “graxa”, quiçá merecendo inclusão nos programas curriculares das nossas prestigiadíssimas Faculdades de Letras.

Dali virão decerto a sair os encanudados que doravante se encarregarão de fazer rebrilhar as botas dos “coroné”. Porque, na verdade, graxistas brasileiros há poucos, a coisa costuma ocorrer em sentido inverso, se bem que muito raramente atingindo tal vigor na bolinação, ou seja, são tugas os maiores engraxadores dos brasileiros mas nem esses vão tão longe no descaramento.

O AO90 foi e é o exemplo mais flagrante desse primordial esfregar de calçado a fregueses brasileiros e assim ressurgiu em Portugal a profissão de lambe-botas. Há mestres desse ofício por todo o lado, em especial nas redondezas das academias, nos milieux político em geral e parlamentar em particular, nas direcções de jornais subsidiados e OCS avençados em geral.

Jamais poderia El-Rei D. Pedro IV sequer imaginar que o acto de doar em testamento o seu coração à cidade do Porto, em sinal de agradecimento pela coragem e pelo apoio que a cidade deu a ele mesmo e à causa liberal, seria usada 198 anos depois como arma de arremesso e propaganda política, primeiro, e como manobra de intoxicação da opinião pública, depois.

Viagem do coração de d. Pedro 1º é metáfora doce em momento histórico

José Manuel Diogo
Folha de S. Paulo” (Brasil), 25 Agosto 2022

Setembro de 2022. Estamos com o coração nas mãos. Não há mais coração que aguente. Bate, coração. Aguenta, coração! O que os olhos não veem, tu não sentes. E, mesmo estando de coração partido, sempre podemos fazer das tripas coração. Vamos abri-lo, tê-lo ao pé da boca ou apenas segurá-lo em nossas mãos?

Se o amor é uma questão de coração, não há dúvida que o Brasil ama Portugal e Portugal ama de volta. Fazer viajar um coração com 224 anos de idade, sobrevoando um oceano, dentro de um frasco de vidro, para ser recebido com honras de Estado, só se justifica por amor.

É claro que vão existir clamores, maus humores e aproveitamentos políticos, mas a verdade única e indesmentível é que os dois países não estão unidos apenas pela história, eles se gostam e se amam —e comprovadamente têm o mesmo coração.

Algum outro país da América (quiçá do mundo) pediu emprestado o seu coração? Nunca. Muitas cabeças foram perdidas, em bandejas de prata, na ponta de sabres, na fúria das guerras. Mas um coração, não. Isso é amor.
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“Pauta/e/o/x”? O/e/a/x que é isso/e/a/x?


pôr-da-Sola em Timor-Leste

De vez em quando tropeçamos numa qualquer excrescência que, não sendo concretamente sobre o AO90, dele depende como se fosse um sub-produto. Destes ressalta a celebérrima TLEBS, essa procissão de inventiva estupidez, e também, mais recentemente, a não menor indigência designada como “linguagem inclusiva”.

É sobre esta última imbecilidade o texto seguidamente transcrito, da autoria de Madeleine Lacsko, escritora, jornalista e “youtuber” brasileira.

Existem de facto relações, salvo seja, entre, o “acordo cacográfico” e a tal “linguagem inclusiva”. Aliás, pensando melhor, se contarmos também com a TLEBS, então teremos um threesome linguístico, salvo seja de novo, tudo a ter relações entre si, trocas e baldrocas em simultâneo, num imenso inferninho. O que resume perfeitamente as taras dos intervenientes, destes três e de quem os pariu, consubstanciada na ideia única de “fecundar” a Língua com requintes de malvadez, entre acessos de paranóica lascívia.

Note-se a similitude da “argumentação” que, segundo os próprios, “explica” a necessidade tanto da “inclusão” como da… acordização: «a linguagem evolui», «reforma imediata e abrangente da grafia», «desenvolvimento da linguagem».

Do mesmo modo, note-se também como são exactamente iguais alguns dos argumentos que as pessoas normais costumam utilizar — por regra e em ambos os casos, sem grande sucesso, dada a solidez do muro de boçalidade em que esbarramos — para refutar a “argumentação” dos inclusivos e dos acordistas: «uma injunção brutal, arbitrária e descoordenada, que ignora a ecologia do verbo», «forçar quem não quer a usar a tal linguagem ou oficializar um idioma por vias tortas», «violam os ritmos do desenvolvimento da linguagem». Como se vê, as razões que Lacsko aponta para pegar fogo à palha que é a “linguagem inclusiva” aplicam-se, ipsis verbis, à golpada (igualmente) política que é a “língua universau“.

Todas as citações foram copiadas do texto abaixo transcrito, escusado será dizer. A respeito do qual, devo confessar, apenas não entendi o título — porque desconheço o que significa a palavra “pauta”, em língua brasileira — e também, de forma abrangente, não percebo a que propósito (ou com que propósito) surge esta enigmática formulação: «Assim como os países de língua portuguesa, os países de língua espanhola têm um acordo ortográfico em comum.»

Assim, com tão estranha observação, a fluidez da redacção é abalada e a lógica intrínseca (e extremamente simples) do texto fica bastante comprometida. Aparentemente, terá sido um simples lapso da autora, um despropósito totalmente desgarrado da lógica discursiva, do contexto e, em sentido lato, do conteúdo, mas, a julgar pelo que diz no parágrafo imediato, haveria alguma relação de causa e efeito ou outra coisa qualquer, vá-se lá adivinhar o quê: «Esse movimento de “inclusão” decidiu tirar todos os demais países da discussão e também o próprio povo argentino. Pode funcionar para mobilizar a opinião pública até que a economia tenha alguma luz.»

Bem, cá está de novo, tais palavras assentam como uma luva ao acordo cacográfico mas pouco ou nada terão a ver com a tal “linguagem de género”.

As palavras não têm sexo. O género não passa de uma flexão verbal (ou tipo nominal), como o tempo e o modo ou o número e a pessoa. Categorias ou classes gramaticais não são subordináveis, ao invés das sociais, a ditames ou imposições ideológicas.

Por mais racionais que sejam as ideias que delas se servem para fazer vingar um conceito ou para aniquilar outro, as palavras são e estão por definição imunes aos tropeções inconsequentes da História. Tão imunes como a própria História, que não existe sem elas e que em tempo algum e de modo nenhum se muda por decreto.

Linguagem de gênero neutro não é inclusiva nem pauta séria

 

noticias.uol.com.br, 04/08/2022
MadeleineLacsko

 

Não bastou a Alberto Fernández a tradicional solução argentina de escolher um superministro para salvar o país do caos econômico. Ele inovou oficializando, ao mesmo tempo, a linguagem de gênero neutro no governo nacional.

Jair Bolsonaro até tentou surfar na onda, criticando o presidente argentino pela medida. A diferença seria que o povo ganha “pobreze”, “desabastecimente” e “desempregue”.

Ele está certo, mas a reação nas redes sociais foi a de que o assunto não tem importância e o presidente deveria trabalhar pelo Brasil.

Conheço gente que fica bastante irritada com o uso da linguagem neutra. E também quem realmente tem orgulho de usar e defende a adoção por instituições públicas. São pessoas adultas, o que é estarrecedor.

Os defensores do gênero neutro ou não-binário dizem que ele torna a comunicação mais inclusiva e menos sexista porque não divide tudo o tempo todo nos gêneros aceitos pela sociedade.

Não há nenhuma experiência de sucesso no mundo que mostre isso. O idioma chinês, aliás, é não-binário. Não consta que seja uma sociedade inclusiva.

Gênero neutro é um sucesso estrondoso entre a elite progressista e alguns meios específicos, como o da publicidade. Entre as minorias que supostamente seriam protegidas mas não foram sequer ouvidas está mais para piada.
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Feira do Livro de Lisboa – 2022

A Feira do Livro de Lisboa 2022 realiza-se no Parque Eduardo VII, entre 25 de Agosto e 11 de Setembro, com 140 participantes representando centenas de marcas editoriais, num total de 340 pavilhões. As editoras e entidades assinaladas no mapa são as que editam, promovem e distribuem publicações em Língua Portuguesa.

https://www.google.com/maps/d/edit?mid=17_fEQLMlmVBJhJcTjbh5hjqMZuHSYOI&usp=sharing

Pavilhões de editoras em Português

Alêtheia Editores

D82

R. de São Julião, 140, R/c
1100-527 LISBOA
210 939 748|9
aletheia@aletheia.pt

Âncora Editora

B17

Av. Infante Santo, 52 – 3.º E
1350-179 LISBOA
213 951 221
catarina.ferreira@ancora-editora.pt

Antígona

A42, A44

R. Silva Carvalho, 152 – 2.º
1250-257 LISBOA
: 213 244 170
info@antigona.pt

Edições Avante

A14

Campo Grande, 220 A
1700-094 LISBOA
218 161 760|8
isimoes@paginaapagina.pt

Companhia das Letras

C23, C25, C27, C29, C31, C33, C35, C37, D50, D52, D54, D56, D58, D60, D62, D64

Av. Duque de Loulé, 123 – Sala 3.6
1069-152 LISBOA
911749878
jose.carvalheira@penguinrandomhouse.com

Edições Colibri

A32

Faculdade de Letras de Lisboa
Alameda da Universidade
1600-214 LISBOA
217 964 038
21 931 7499
colibri@edi-colibri.pt
http://www.edi-colibri.pt/

Edições do Saguão

C63

Rua da Sociedade Farmacêutica, 9 – 1.º
1150-337 LISBOA
Tmv.: 934 005 585
E-mail: saguao.edicoes@yahoo.com
URL: www.edicoesdosaguao.pt

Editorial Bizâncio

D29, D31

Largo Luís Chaves, 11-11 A
1600-487 LISBOA
Tel.: 217 550 228
Fax: 217 520 072
E-mail: bizancio@editorial-bizancio.pt
URL: www.editorial-bizancio.pt

E-Primatur

D76, D78, D80

R. Oceano Atlântico, 5
2560-510 SILVEIRA
912 192 454
pbernardo@e-primatur.com

Fundação Francisco Manuel dos Santos

Praça da Fundação
Auditório Sul
C03, C05, C07

Lg. Monterroio Mascarenhas, 1 – 7.º piso
1099-081 LISBOA
938 045 034
snorton@ffms.pt

Gradiva

B68, B70, B72

R. Almeida e Sousa, 21 R/c E
1399-041 LISBOA
vpatinha@gradiva.mail.pt

Guerra e Paz Editores

A46, A48, A50

Rua Conde Redondo, 8 – 5.º Esq.
1150-105 LISBOA
213 144 488
guerraepaz@guerraepaz.net

Livros de Bordo

D33

Rua Frei Luís Chagas, 14 – 2.º Esq.
8500-679 PORTIMÃO
Tmv.: 936 166 181
E-mail: livrosdebordo@gmail.com
URL: www.livrosdebordo.pt
«Nota – Não seguimos o Acordo Ortográfico de 1990.»

Sabooks Editora – Lusodidacta

B29

Sabooks Editora – Lusodidacta – Livros técnicos de saúde
R. Dário Cannas, 5 A
2670-427 LOURES
926 803 798
http://www.lusodidacta.pt/

Maldoror

D22

Rua Heliodoro Salgado , 61 – 2.º
1170-175 LISBOA
Tel.: 914 282 659
E-mail: maldoror.livros@gmail.com
URL: www.livrosmaldoror.com

Nova Vega

A20; A22

Rua do Poder Local, 2 – Sobreloja A
1675-156 PONTINHA
217 781 028|217 786 295
info@novavega.pt

Orfeu Negro

A38, A40
Rua Silva Carvalho, 152 – 2.º
1250-257 LISBOA
Tel.: 213 244 170
Fax: 213 244 171
E-mail: geral@orfeunegro.org
URL: www.orfeunegro.org

Sistema Solar

A16: A18

Rua Passos Manuel, 67 B
1150-258 LISBOA
210 117 011
editora@sistemasolar.pt

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Lápis azul nas redes anti-sociais [3]

Isto é o resultado de um bufo ter informado a polícia política portuguesa, via Fakebook, de que era necessário bloquear o meu domínio. A lista de crimes que a ciberpide imputa a cedilha[ponto][extensão n, e, t] é enorme. Quem quiser ver o “perigo” que aquilo é (dizem eles) só precisa de consultar qualquer dos serviços de “web reputation“. [post no Facebook (URL empastelado]

‘O estado a que isto chegou’

A questão é só uma e essa implica outra: a censura na plataforma criada por Mark Zukerberg é um exclusivo ou também existe nas outras redes anti-sociais? Esta censura é sistemática, uniforme e generalizada ou é casuística, discricionária e selectiva?

Das duas respostas uma terceira emerge: não, não é um exclusivo, cada rede segue o seu próprio guião político e exerce a sua própria metodologia censória, a qual depende dos objectivos e dos efeitos pretendidos pelas respectivas castas de financiadores (sempre os mesmos, os muito poucos que estão em todas), sendo a repressão em qualquer dos casos discriminatória, visto depender de critérios subjectivos (interpretação de cada censor, momentum, similitude) e sendo também, por conseguinte, episódica. Do que resulta: os “serviços” de “mesa censória” são únicos, os do próprio Fakebook, na sua sede americana, prestando essa “mesa” serviços aos DDT (Donos Disto Tudo – mundo), ou existem “delegações” da dita espalhadas pelo mundo que obedecem apenas aos ditames particulares dos DDT (Donos Daquilo Tudo – país)?

As orientações gerais, lançadas e centralizadas nos States, são conhecidas: terminologia “jurídica” (rotulagens) das “violações”, parametrização de confomidade/desconformidade, lista de penalizações (uma espécie de Código Penal particular/pessoal) etc. São também conhecidas as diversas listas negras de organizações terroristas banidas e de indivíduos comprovadamente criminosos ou pertencentes a tais organizações, bem como de toda e qualquer terminologia que possa estar (ou ser) associada a actividades criminosas; está também tipificada, até porque isso é do mais elementar senso comum, a gama de crimes que implicam banimento a priori e existe até a discriminação por país de todas as organizações políticas, todos os grupos ou bandos (três em Portugal) ou indivíduos que tenham sido considerados como criminosos pelas mais diversas entidades policiais, nacionais ou internacionais.

“L’Origine du monde”, de Gustave Courbet. Este quadro “custou-me” outra suspensão de 3 dias. Acusação: “pornografia”.

De toda a documentação atinente, que é imensa e tende a crescer exponencialmente, nada consta sobre as atribuições e prerrogativas — grau ou nível de autonomia — de qualquer das delegações que a multinacional Meta, a designação genérica e domicílio fiscal/empresarial do Fakebook, possui em todo o mundo. Por exemplo, nos escritórios de República da Irlanda (3), Israel, Austrália, Reino Unido (2), Holanda, Alemanha (2), Bélgica, Dinamarca (2), Dubai (EAU), Suíça (2), Nigéria, Suécia, Espanha, Itália (2), Noruega, França, República Checa e Polónia, por exemplo, as orientações políticas e comerciais (1.ª “coincidência”) serão exactamente as mesmas das determinadas pela sede em Menlo Park, California (USA)?

Curiosamente, ou talvez não, do mapa-mundi fakebookiano não consta o “jardim à beira-mar plantado”. Deve ser mais uma “coincidência”, claro.

Sucede que, apesar de constar amiúde que eles têm cá uma sede, muito pouco ou rigorosamente nada se sabe sobre quem e o que são os agentes-delegados na Tugalândia, ao certo, em que estaleiro se acoitam e quem terá dado posse (e poderes ilimitados) a semelhante pandilha.

Não terá sido por falta de “novidades” sobre o assunto, porém. É irrelevante que sejamos poucos, em Portugal, a denunciar os esbirros (e os bufos), assim como não tem qualquer importância a imensa colecção de rótulos, epítetos, insultos, insinuações e ataques ad hominem, tentativas persistentes de demolição de carácter, um verdadeiro estendal de “brincadeiras” que serve de entretém àquela gentalha. Pois aqui vai-se fazendo o que se pode — e principalmente o que não se pode, segundo eles — para expor a manigância, a arbitrariedade, o embrionário estado de sítio dentro do Estado que vai já mexendo.

O banimento do meu webdomain, os sucessivos e constantes casos de “suspensão” da conta de utilizador no Fakebook por motivos galopantemente absurdos e exponencialmente imbecis, o apagamento radical de conteúdos (incluindo partilhas cujos originais permanecem intocados) e de comentários em “murais” alheios (ou no próprio), a espionagem (e censura) até de correspondência privada, tudo tenho tentado divulgar publicamente — não há deste lado seja o que for a esconder.

O que significa, na prática, a inviabilização imediata e a extinção a curto prazo de quaisquer “sites” ou “blogs” que se dediquem primordialmente — como é o caso do Apartado 53 — a constituição de acervo monotemático e, fundamentalmente, tendo este por tema monográfico o AO90, um assunto que em nada agrada à oligarquia vigente? Não haverá nada de muito “estranho” em tudo o que tem sucedido com este blog naquela “rede social” (e fora dela, como veremos ainda)? Não serão “coincidências”, “mal-entendidos” ou “lapsos” a mais?

De que nacionalidade pode ser um censor de serviço que entenda expressões idiomáticas do Português (mas em Língua Portuguesa mesmo, Português de Portugal) que são absolutamente intraduzíveis e não têm a mais remota equivalência em qualquer outra Língua? Poderá ser americano (ou inglês ou canadiano ou sul-africano ou nigeriano) um censor que entenda o calão típica e exclusivamente não apenas português como até lisboeta ou tripeiro ou alentejano ou madeirense ou “duus açuores” ou “algarvie” ou à “xoque frrite”? E a gíria de Alcântara (a dos “vacanos espacialistas em meter os garfes“), também entendem, lá os “cámones”? Então e a linguagem “codificada”, à base de iniciais, corruptelas indecifráveis para “gente de fora”, os nomes dos bois todos trocados, empastelamento e código verdadeiro (sim, também uso disso, é só para quem interessa), enfim, de todos esses e de muitos outros “truques”, como pode algum estrangeiro entender seja o que for? “Estes polacos são tontinhos toc toc toc” (Obélix dizia o mesmo dos romanos) significa o quê, ao certo, para os pides tugas? “Hate speech”? WTF?!

Ora, evidentemente, quem “entendeu” que Obélix faz “apelo ao ódio” (ou que o termo em calão para “florzinhas” significa “rosinhas”, referindo-se aos do largo do Rato), abreviando, só pode ser tuga. Está absolutamente fora de causa qualquer outra hipótese.

E nem vale a pena falar de rastreamento/varrimento automático por “bot”, por algoritmo ou pelo diabo que os carregue. O do toc-toc-toc foi um fulaninho baixinho e de bigodinho, o das flores foi de outro fulaninho, este sem bigodinho mas igualmente raquítico (um requisito essencial na carreira pidesca), e os de todas as outras aberrações foram sempre a mesma chusma de fulaninhos e fulaninhas, a nova geração de pides que por aí impera, a beber imperiais na tasca da esquina e a cavaquear amenamente sobre quantos “perigosíssimos inimigos” chatearam hoje, sobre “ténicas” de contra-informação e desinformação, sobre o Estado maravilhoso a que isto chegou.

[Imagem de Obélix (toc toc toc) copiada de: “Pinterest“; autor: Albert Uderzo.][continua]

 


  1. Lápis azul nas redes anti-sociais [3] – ‘O estado a que isto chegou’
  2. Lápis azul nas redes anti-sociais [2] – O “Código Penal” do Fakebook
  3. Lápis azul nas redes anti-sociais [1] – Delito de opinião e pensamento

Lápis azul nas redes anti-sociais [2]

O “Código Penal” do Fakebook

Facebook Standardsfacebook_standards – Download

Esta é a reprodução do dicionário terminológico do Facebookês, a língua em uso naquela rede anti-social, tipificando onomasticamente tudo o que a casa gasta e também — principalmente — aquilo que à casa rende. “Fala” por si mesma a rigidez terminológica assim determinada, não prevendo qualquer espécie de concessão ou elasticidade, sinónimos ou alternativas.

O que se segue, em bloco de citação, contém o que a “legislação” interna estipula como sendo “Hate Speech” (“discurso de ódio”, na tradução vulgarizada). Escusado será dizer que absolutamente ninguém lê uma só linha de qualquer dos enormes manuais de “Direito” facebookiano, as suas diversas Policies, o “código de conduta” — interna, mas que é aplicada externamente –, os volumes dispersos e os escondidos, os inúmeros documentos de “orientação” e as orientações propriamente ditas, as de pé-de-orelha, tudo muito bem protegido, que de calhamaços também se fazem muros e com sussurros se rosnam ameaças.

Facebook Community Standards

Hate Speech

Do not post:

Content targeting a person or group of people (including all groups except those who are considered non-protected groups described as having carried out violent crimes or sexual offenses or representing less than half of a group) on the basis of their aforementioned protected characteristic(s) or immigration status with:

  • Violent speech or support in written or visual form
  • Dehumanizing speech or imagery in the form of comparisons, generalizations, or unqualified behavioral statements (in written or visual form) to or about:
    • Insects.
    • Animals that are culturally perceived as intellectually or physically inferior.
    • Filth, bacteria, disease and feces.
    • Sexual predator.
    • Subhumanity.
    • Violent and sexual criminals
    • Other criminals (including but not limited to “thieves,” “bank robbers,” or saying “All [protected characteristic or quasi-protected characteristic] are ‘criminals’”).
    • Statements denying existence.
  • Mocking the concept, events or victims of hate crimes even if no real person is depicted in an image.
  • Designated dehumanizing comparisons, generalizations, or behavioral statements (in written or visual form) that include:
    • Black people and apes or ape-like creatures.
    • Black people and farm equipment.
    • Caricatures of Black people in the form of blackface.
    • Jewish people and rats.
    • Jewish people running the world or controlling major institutions such as media networks, the economy or the government.
    • Denying or distorting information about the Holocaust.
    • Muslim people and pigs.
    • Muslim person and sexual relations with goats or pigs.
    • Mexican people and worm-like creatures.
    • Women as household objects or referring to women as property or “objects”.
    • Transgender or non-binary people referred to as “it”.
    • Dalits, scheduled caste or ‘lower caste’ people as menial laborers.

Content targeting a person or group of people on the basis of their protected characteristic(s) with:

  • Generalizations that state inferiority (in written or visual form) in the following ways:
    • Physical deficiencies are defined as those about:
      • Hygiene, including but not limited to: filthy, dirty, smelly.
      • Physical appearance, including but not limited to: ugly, hideous.
    • Mental deficiencies are defined as those about:
      • Intellectual capacity, including but not limited to: dumb, stupid, idiots.
      • Education, including but not limited to: illiterate, uneducated.
      • Mental health, including but not limited to: mentally ill, retarded, crazy, insane.
    • Moral deficiencies are defined as those about:
      • Character traits culturally perceived as negative, including but not limited to: coward, liar, arrogant, ignorant.
      • Derogatory terms related to sexual activity, including but not limited to: whore, slut, perverts.
  • Other statements of inferiority, which we define as:
    • Expressions about being less than adequate, including but not limited to: worthless, useless.
    • Expressions about being better/worse than another protected characteristic, including but not limited to: “I believe that males are superior to females.”
    • Expressions about deviating from the norm, including but not limited to: freaks, abnormal.
  • Expressions of contempt (in written or visual form), which we define as:
    • Self-admission to intolerance on the basis of a protected characteristics, including but not limited to: homophobic, islamophobic, racist.
    • Expressions that a protected characteristic shouldn’t exist.
    • Expressions of hate, including but not limited to: despise, hate.
  • Expressions of dismissal, including but not limited to: don´t respect, don’t like, don´t care for
  • Expressions of disgust (in written or visual form), which we define as:
    • Expressions that suggest the target causes sickness, including but not limited to: vomit, throw up.
    • Expressions of repulsion or distaste, including but not limited to: vile, disgusting, yuck.
  • Cursing, except certain gender-based cursing in a romantic break-up context, defined as:
    • Referring to the target as genitalia or anus, including but not limited to: cunt, dick, asshole.
    • Profane terms or phrases with the intent to insult, including but not limited to: fuck, bitch, motherfucker.
    • Terms or phrases calling for engagement in sexual activity, or contact with genitalia, anus, feces or urine, including but not limited to: suck my dick, kiss my ass, eat shit.

Content targeting a person or group of people on the basis of their protected characteristic(s) with any of the following:

  • Segregation in the form of calls for action, statements of intent, aspirational or conditional statements, or statements advocating or supporting segregation.
  • Exclusion in the form of calls for action, statements of intent, aspirational or conditional statements, or statements advocating or supporting, defined as
    • Explicit exclusion, which means things like expelling certain groups or saying they are not allowed.
    • Political exclusion, which means denying the right to right to political participation.
    • Economic exclusion, which means denying access to economic entitlements and limiting participation in the labour market.
    • Social exclusion, which means things like denying access to spaces (physical and online)and social services, except for gender-based exclusion in health and positive support Groups.

Content that describes or negatively targets people with slurs, where slurs are defined as words that are inherently offensive and used as insulting labels for the above characteristics.

Para que se não misturem conceitos, contaminando uns com os outros, é melhor evitar — pelo menos, para já — quaisquer analogias entre o Fakebook e aquilo que se passa no Twitter. Os princípios basilares são os mesmos, a repressão pura e simples do livre pensamento, a liquidação sumária da liberdade de opinião e expressão, mas os métodos pidescos diferem em diversos aspectos, numa rede e na outra. Atenhamo-nos, por conseguinte, àquilo que é cada vez mais (descaradamente) notório no recreio do puto Mark, esse insuportável fanfarrão, e dedicando particular atenção ao que estão por cá a fazer agentes portugueses com a sua particular maestria na arte da estupidificação em massa. Portanto, de momento, “basta-nos” o Fakebook (incluindo as demais “redes” que o dito puto já devorou, como o Instagram) e quais os métodos pidescos mais utilizados na delegação tuga da chafarica markiana.

Não misturemos também aquilo que vamos vendo e lendo, as figuras públicas (talvez) banidas pela sede de Menlo Park, California — são principalmente americanos, mas há também canadianos, franceses e ingleses, entre outros — e as controvérsias que esses episódios mediáticos geram, com o que se vai passando entre as imensas manadas de gado que pastam na paisagem, as reses pastoreadas pelos portadores da flauta ideológica.

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