Guilherme

Nasceu o primeiro bebé em Portugal com recurso a inseminação pós-morte

Guilherme nasceu esta quarta-feira no Centro Materno-Infantil, no Porto. Ângela Ferreira, a mãe, anunciou o nascimento nas redes sociais.

Alexandra Campos e Rita Ferreira
“Público”, 16 de Agosto de 2023

Tem o nome do pai, Hugo, e o outro nome que o pai escolhera para ele antes de morrer, Guilherme. Hugo Guilherme nasceu esta quarta-feira às 11h09 no Centro Materno-Infantil do Norte, por cesariana, com 3,915 quilos e 50,5 centímetros de comprimento. É o primeiro bebé concebido em Portugal com sémen preservado de dador falecido.

“Hoje o nosso mundo ficou mais iluminado, o Guilherme nasceu pelas 11:09 com 3,915 kg e 50.5 cm. É um rapagão cheio de saúde ???? obrigada meu amor Hugo Neves Ferreira por me teres escolhido para este sonho! Tão mágico que foi, que está a ser.” Esta foi a mensagem que Ângela Ferreira, a mãe, partilhou nas redes sociais horas após o nascimento do seu filho, uma notícia avançada pela TVI.

Em Fevereiro deste ano, após dois tratamentos que falharam, Ângela anunciou que estava grávida do marido, que morrera com cancro em Março de 2019. Hugo deixara escrito que autorizava Ângela a utilizar o sémen que criopreservou antes de iniciar os tratamentos oncológicos. E ela conseguiu engravidar através de uma fecundação ‘in vitro’. “Foram anos de luta, o processo foi longo e moroso… mas finalmente conseguimos! É com uma alegria enorme e com o coração cheio que partilho que batem dois corações dentro de mim”, revelou, então, no Instagram.

Antes de morrer vítima de cancro aos 29 anos, Hugo tinha procedido à recolha e criopreservação de esperma no Centro Hospitalar e Universitário de São João (Porto), onde estava a ser tratado. E autorizou, num documento escrito, que a mulher continuasse os tratamentos para engravidar após a sua morte.

Ângela protagonizou a batalha pela legalização da inseminação ‘postmortem’ em Portugal. Foi a divulgação da história desta cabeleireira do Porto numa série documental da TVI, em 2020, que originou um amplo debate e mobilização a nível nacional que acabaria por levar à mudança da lei de procriação medicamente assistida (PMA), datada de 2006, e que interditava a concepção de embriões com material genético de dador falecido.

A alteração começou por ser impulsionada por uma petição, seguida de uma iniciativa legislativa de cidadãos, que em poucos dias reuniu o número mínimo de assinaturas necessário para ser discutida e votada na Assembleia da República. Aprovada em Março de 2021, a alteração da lei abriu a porta à concepção e nascimento de Hugo Guilherme. “É um rapagão cheio de saúde”, descreveu esta quarta-feira Ângela, confessando que agora se vai isolar “nesta bolha de amor e aproveitar o máximo”.

A iniciativa legislativa levou a que o PS, o Bloco de Esquerda e o PCP apresentassem projectos de lei no mesmo sentido no Parlamento, onde a alteração à lei da PMA acabou por ser aprovada em Março de 2021, com os votos contra do PSD, do CDS e a abstenção de cinco deputados socialistas.

Até então, havia uma discriminação incompreensível, uma vez que a lei da PMA permitia a inseminação de embriões após a morte e não havia qualquer obstáculo quando estava em causa a utilização de sémen de dador anónimo, que, em teoria, poderia estar vivo ou morto, ao mesmo tempo que não dava esse direito quando o dador era alguém com quem a mulher vivera e deixara expressa a vontade de ter um filho em comum. Ou seja, Ângela poderia recorrer a um dador anónimo para ser mãe, mas não podia utilizar o esperma criopreservado do marido.

[Transcrição integral. Destaques e “links” meus.]

O bebé Guilherme nasceu no dia 16 de Agosto de 2023. Longa vida ao Guilherme, com saúde e alegria, é o que se deseja!

Ainda antes de vir ao mundo já o Guilherme tinha uma longa história, complicada história, difícil história, aliás muito mais difícil do que “apenas” o que implicam as condições naturais que uma grávida enfrenta ao longo dos nove meses de gestação. Pelo contrário, a luta do Guilherme pelo direito de nascer começou antes mesmo da própria concepção. Luta essa em que se empenhou sua Mãe, bem entendido, com denodo e coragem, tendo por base a vontade expressa de Hugo Neves Ferreira, seu marido e pai da criança, anteriormente falecido.

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A língua do Brasil é a brasileira

Language is a structured system of communication that consists of grammar and vocabulary. It is the primary means by which humans convey meaning, both in spoken and written forms, and may also be conveyed through sign languages. The vast majority of human languages have developed writing systems that allow for the recording and preservation of the sounds or signs of language. Human language is characterized by its cultural and historical diversity, with significant variations observed between cultures and across time.[1] Human languages possess the properties of productivity and displacement, which enable the creation of an infinite number of sentences, and the ability to refer to objects, events, and ideas that are not immediately present in the discourse. The use of human language relies on social convention and is acquired through learning. [Wikipedia]

Diz a autora do “post”: «That was exactly what happened to the Portuguese.»Pois foi exactamente o que aconteceu com os portugueses.»)

Bem, não exactamente. Não existe “língua americana”, mas existe — de facto, se bem que (ainda) não oficialmente — língua brasileira. A Língua inglesa é a nacional, adoptada federalmente e instituída nos 50 estados da República Federativa dos Estados Unidos da América do Norte (USA). Salvas as devidas e naturais diferenças de sotaque e mesmo de algum vocabulário específico entre os estados mais a Norte em relação aos do Sul e daqueles mais próximos da costa atlântica, a Leste, face aos da costa do Pacífico, a Oeste, a Gramática da Língua falada e escrita nos USA é a do Inglês canónico — aliás, comum a todas as ex-colónias da Coroa britânica

Isto não sucede, de todo, com a língua brasileira; por motivos políticos e consoante as respectivas incidências históricas (processo de independência, influências linguístico-culturais externas e internas, fluxos migratórios, convulsões geoestratégicas, organização social etc.), a Língua da antiga potência colonial sofreu um processo de erosão, primeiro, de re-construção (não confundir com reconstrução), a seguir, e de pura e simples destruição, por fim, da matriz linguística original. Hoje em dia, a língua brasileira é simultaneamente tão parecida e tão diferente do Português como o são o Galego, o Crioulo de Cabo Verde (por exemplo) ou até o Papiamento, o Patuá ou qualquer dos outros crioulos de base portuguesa espalhados pelo mundo.

Não existem, por conseguinte, a não ser nos discursos de brasileiristas e na conversa fiada de “linguistas” e “especialistas” a soldo (e em saldo), outras “variantes” do Português — Língua oficial — além das de Angola, Moçambique, Cabo Verde, Guiné-Bissau e São Tomé e Príncipe; ou seja, nos PALOP. Os casos de Timor-Leste, de Macau e mesmo da antiga “Índia portuguesa” não entram na categoria de “variantes”, dadas as suas exiguidade e particularidade.

O factor comum, logo, unificador, logo, identitário, é o mesmo que regula os vastíssimos e imensamente diversificados espaços da Commonwealth e, também mas não de igual forma, da Francophonie: a Gramática é comum, o vernáculo é estável (se não o fosse, não seria vernáculo), a ortografia — suportando apenas variações pontuais e de pormenor — a mesma. Nada disto sucede com a língua brasileira, o que, pela própria noção conceptual, exclui liminarmente e por definição sequer a possibilidade de aquilo ser uma “variante” da Língua Portuguesa.

Por mais cambalhotas “linguísticas”, por mais malabarismos neo-imperialistas e por mais vigarices que marionetas a soldo (“linguistas”, “académicos”) tentem impingir a papalvos, a verdade é que já nem Jorge Amado ou Chico Buarque, nem Machado de Assis ou José Mauro de Vasconcelos, nem Olavo Bilac ou Jô Soares conseguirão reverter ou ao menos parar o processo — aliás tão natural como a própria marcha da História — de… rompimento linguístico: será mera questão de tempo até que a Língua Brasileira seja oficialmente reconhecida como “língua de trabalho” da ONU e finalmente assumida pelos poderes políticos instituídos no Brasil e em Portugal como sendo aquilo que na realidade o Português e o Brasileiro já são: línguas diferentes. Uma, filha do Latim, europeia e adoptada por alguns países africanos; a outra, trineta (ou pentaneta) da tal filha do Latim, esgarçada pelos próprios brasileiros com a ajuda de italianos, libaneses, japoneses e até dos brasileiros que já lá estavam antes de existir o país Brasil e sequer a ideia de “país” — índios de inúmeras tribos.

How do you explain the inexplicable?

Cátia Cassiano

“In The Eyes Of A Translator”, 28 August 2023

How do you explain the inexplicable? As an entrepreneur, I have a duty of care to my clients. I must provide them with great service, transparency, and all the relevant information they need to make their own decisions. This would be a straightforward task if you work in the legal industry or if you sell a product. You both speak the same language and you both know the desired outcome. What about language service providers? For us, it may be a little more complicated because we are dealing with different languages and cultures and one side might not have any knowledge or contact with the language or culture. So, what do you do?

Making a connection

As linguists, our duty is to make a connection between those two languages and cultures. In other words, that document our client gave us to be translated needs to be converted into something the readers of the other language perceive as native and written for them. This is why we need translators after all!

The broken link

What if there is a broken link in the process? You must solve it and restore that link as soon as you possibly can. This usually happens when there are variants in the languages you are working with. We need to explain to our clients why being aware of these variants is essential to the success of their projects. Because if they don’t have any contact with the language they might not understand that a text in the wrong variant may damage their reputation in that country and that might be a problem for them.

Cultural assassination

This all seems doable. You can explain the diversity of the cultures that speak that language and why the variants might be so different from the main language from which they originated. But, what if the government of that country is the one trying to erase that culture and language, how can you explain it? How do you explain to your clients that the government of the country they are doing business with is trying to assassinate the culture and language of that country? Impossible isn’t it?

This is what is currently happening in Portugal, and that is the situation I and all my colleagues who work with the Portuguese Language have to face. The elected Government signed an agreement without public consultation, forcing the Portuguese to write according to the Brazilian variant of the language. No linguist was consulted, the constituents were not consulted, and no one was consulted. The result was something abhorrent and confusing.

They claimed they wanted to unify the language but all they did was create more division. People don’t know how to write, there are errors everywhere and it is an absolute disgrace. Citizens have been fighting for this for a long time, but the same corrupt politicians who signed this absurd are the ones ignoring the people who put them there!

So how can you explain to your clients why it is essential to respect the language and culture of the country they are doing business with if the government of that country is the first one to do the opposite? I try, I even try to explain what is happening here, but it is so absurd that even that is difficult. Let me try … just think about it … what would you say if you read or someone told you that Rishi Sunak signed an agreement with all other English-speaking countries so the United Kingdom and all other countries start speaking the American variant of English? What would you say about this? What would Kind Carles say about this? That was exactly what happened to the Portuguese. Absurd isn’t it?

[Transcrição integral, com ligeiras alterações apenas no aspecto gráfico.
Acrescentei “links”.]

[tradução]

Como explicar o inexplicável?

Cátia Cassiano
“In The Eyes Of A Translator”, 28 August 2023

Como é que se explica o inexplicável? Como empresária, tenho o dever de cuidar dos interesses dos meus clientes. Tenho de lhes prestar um bom serviço, com transparência e providenciando toda a informação relevante de que necessitam para tomarem as suas próprias decisões. Esta é uma tarefa simples para quem trabalha no sector jurídico ou se vendermos um produto; ambos falam a mesma língua e ambos sabem qual o resultado pretendido. E os prestadores de serviços linguísticos? Para nós pode ser um pouco mais complicado, porque estamos a lidar com línguas e culturas diferentes e uma das partes pode não ter qualquer conhecimento ou contacto com a língua ou cultura da outra. Então, o que é que se faz?

Estabelecer uma ligação

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«Defending a country’s identity» [Cátia Cassiano, “Updated Words”]

Defending a country’s identity

Cátia Cassiano
“UpdatedWords” (Australia), 9 May , 2023

Defending a Country’s Identity it’s the duty of its citizens and its governments who are elected to defend and represent their country abroad. That identity is shown by the country’s culture, its traditions, its food, and the language is how those identity traits are communicated to others. Without a language, there is no culture, and without culture, there is no country.

Languages are complex beings I would say. They can be spoken in different parts of the world and they develop their own intricacies that represent that part of the world. They form variants and they share the same core rules and vocabulary, but they create their own, which is a product of a different evolution and cultural influence. This is a reality for many languages like English, Spanish, Portuguese, and others. Most countries understand this and respect those differences since they only enrich the language itself by creating diversity and culture. Unfortunately, the Portuguese government does not and that is hurting the country’s language, culture, and identity.

Incompetenty, disrespect, and contempt

In 2009, the then-Portuguese Government approved the New Orthographic Agreement of the Portuguese Language 1990 (AO90). According to them, it was aimed to “unify” the language and simplify things. There was no consultation on the matter and linguists were appalled by such an idea. The problem is that the government is imposing a change to the variant spoken in Portugal, which does not reflect the country’s culture or natural evolution. Some say they imposed the Brazilian variant on the Portuguese, the reason for such claims is that the majority of changes favour the Brazilian variant over the European variant. This is rather unnatural for the Portuguese and that is the reason causing such revolt. But let’s make it clear, this is not a war between Portuguese and Brazilians, both Portuguese and Brazilians are against it. This is a fight against a bunch of politicians who know nothing about languages and their evolution and use them as a tool for their corrupt endeavours.

The government is democratically elected to protect, defend, represent, and run the country. The Portuguese Government has done none of the above. They never represented the country or its interests, they certainly did not defend it and as per running the country, you just look at the economy and make your own conclusions. In my view, they are incompetent to run the country, they disrespect its customs and culture and they treat its citizens with contempt and that is why people have revolted against them.

The citizens’ revolt

Portuguese citizens from all walks of life spoke out about this appalling change. Those who create it don’t even know how to apply it and if you look at the Diary of the Republic, which is the official document where all government proceedings and Laws are registered, you will find a mix of rules, which make it even more confusing to read and understand. The children are learning a language they don’t identify with and this is the reality of a country with centuries of history and culture.

A group of Citizens joined forces and signed a Citizens’ Legislative Initiative (Iniciativa Legistativa de Cidadãos contra o Acordo Ortográfico – ILCAO) with thousands of signatures proposing the annulment of this absurd. It wasn’t passed. But we won’t give up. Ms. Isabel Ferreira, the author of the blog “O Lugar da Língua Portuguesa” (The Portuguese Language Place), has written an Appeal to the Portuguese President, Marcelo Rebelo de Sousa, explaining why this absurd must be abolished. Again, we all stepped in and sign up. I was one of those who have proudly participated in both initiatives and I will continue to do so until we have justice. If you want to join us, please, follow the link and send Ms. Ferreira an email with your name and profession. You must be a Portuguese Citizen. Let’s fight for what’s right, let’s fight for this culture, these people, and their language.

Cátia Cassiano

[Transcrição integral. Destaques meus. Acrescentei imagens e “links” (a verde),
sendo de minha autoria os extractos e/ou comentários apensos.]

[tradução automática]

Defender a identidade de um país

Cátia Cassiano
“UpdatedWords” (Australia), 9 May , 2023

Defender a identidade de um país é um dever dos cidadãos e dos governos eleitos defender e representar o seu país no estrangeiro. Essa identidade manifesta-se na cultura do país, nas suas tradições, na sua gastronomia, e a língua é a forma como esses traços de identidade são comunicados aos outros. Sem língua, não há cultura e, sem cultura, não há país.

As línguas são seres complexos, diria eu. Podem ser faladas em diferentes partes do mundo e desenvolvem as suas próprias complexidades que representam essa parte do mundo. Formam variantes e partilham as mesmas regras e o mesmo vocabulário, mas criam o seu próprio, que é o produto de uma evolução e de uma influência cultural diferentes. Esta é uma realidade para muitas línguas como o inglês, o espanhol, o português e outras. A maioria dos países compreende este facto e respeita essas diferenças, uma vez que elas apenas enriquecem a própria língua, criando diversidade e cultura. Infelizmente, o governo português não o faz e isso está a prejudicar a língua, a cultura e a identidade do país.

Incompetência, desrespeito e desprezo

Em 2009, o então Governo português aprovou o Novo Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa de 1990 (AO90). Segundo eles, o objectivo era “unificar” a língua e simplificar as coisas. Não houve qualquer consulta sobre o assunto e os linguistas ficaram chocados com tal ideia. O problema é que o governo está a impor uma mudança na variante falada em Portugal, que não reflecte a cultura nem a evolução natural do país. Há quem diga que impuseram a variante brasileira aos portugueses, a razão para tais afirmações é que a maioria das mudanças favorece a variante brasileira em detrimento da variante europeia. Isto não é natural para os portugueses e é essa a razão da revolta. Mas vamos deixar claro, esta não é uma guerra entre portugueses e brasileiros, tanto portugueses como brasileiros estão contra. Trata-se de uma luta contra um bando de políticos que não sabem nada sobre as línguas e a sua evolução e que as usam como um instrumento para os seus projectos corruptos. Continue reading “«Defending a country’s identity» [Cátia Cassiano, “Updated Words”]”

5 de “maio” de 2023 [vídeo]

«O dia foi criado em 2005 durante uma reunião em Luanda, Angola, dos ministros da cultura de sete países lusófonos». [“Wikipédjia lusôfuna“]

Este “videoclip” surge por uma série de acasos, a começar pelo simpaticíssimo convite de uma “vizinha” do Facebook e a terminar no facto de ter tido de eliminar as referências iniciais ao dito convite, porque afinal — como aliás seria mais do que expectável — as minhas “considerações” sobre esta data são tudo menos elogiosas ou laudatórias; muito pelo contrário, está bem de ver, até por uma questão de coerência: aquilo que digo no vídeo não é mais do que uma tentativa de condensação do que sempre disse por escrito aqui no Apartado (desde 2015), no “site” da ILCAO (de 2010 a 2015), no Apdeites (2008/2009) e um pouco por todo o lado (como em desacordo.wikidot.com) antes disso.

Para quem tiver a paciência suficiente para ouvir, o que a suceder será merecedor dos mais rasgados elogios, dada a minha proverbial aversão a este tipo de registo (e respectiva, desgraçada falta de jeito), irá com certeza reconhecer algumas das menções mais vezes aqui reiteradas em texto, não apenas ao 5 de “maio” como à sucessão de acontecimentos que desde 1986 têm forçado a Língua Portuguesa a aproximar-se perigosamente do linguicídio.

Uma pequena amostra dos posts referidos no “depoimento”:

[5 de Maio: dia mundial da língua brasileira] – (…) mais uma manobra de contra-informação e de intoxicação da opinião pública sobre a inacreditável farsa com que hoje em dia se designa a língua brasileira veiculada pelo “acordo”, rebaptizado como “Língua Portuguesa” — uma palhaçada nojenta.

[5 de “maio”, dia da língua de vaca (e da cultura do feijão)] – O “Dia da Língua Portuguesa (e da Cultura Lusófona)” é uma patranha inventada em 14 de Maio de 2005 pelos acordistas de serviço, portugueses e brasileiros (com a presença folclórica de representantes dos PALOP), no intuito de revestir de uma aparência “tradicional” e “histórica” a colossal manobra de genocídio linguístico (e cultural) a que alguns mafiosos chamam “acordo ortográfico”.

[Lápis azul nas redes anti-sociais] – Trata-se, portanto e em suma, de deixar a quaisquer presentes ou futuras vítimas de censura ou represália por delito de opinião algumas pistas, caso ainda acreditem que também existe disso em Portugal, para que exerçam a sua prerrogativa mais básica e inalienável — o direito de legítima defesa.

[“Não falo o português.” Ah, pois não, não.] – (…) a Língua Portuguesa e o brasileiro são tão diferentes entre si como o Português e o Galego, por exemplo, mesmo dando de barato que a Língua Galega, ao contrário da brasileira, mantém intactas as estruturas gramaticais — nomeadamente a sintaxe — comuns a ambas as Línguas.

[A Wikipédjia lusôfuna] – Então, afinal, como sucedeu a endlösung da Wikipedia em Português-padrão? Bem, a “solução final” foi decidida por um enorme universo de… 22 pessoas. Na imagem aqui ao lado estão os resultados de uma “votação” que determinou a extinção sumária do Português de Portugal na “Wikipédia Lusófona” (…)

[Lusofobia: causa(s) e efeito(s)] – (…) aquilo em que de facto consiste a lusofobia enquanto fenómeno sociológico, por assim dizer, já que a maioria das pessoas não apenas desconhece o conceito como nem mesmo alguma vez ouviu sequer falar de tal coisa. No fim de contas, o próprio termo presta-se a confusões visto que difere numa única letra de “lusofonia”; evidentemente, apesar da semelhança “sonora”, o significado do substantivo “lusofobia” — que remete para uma atitude concreta — não tem absolutamente nada a ver com a ideia abstracta e indefinida de “lusofonia”, uma palavra vazia de significado que serve apenas finalidades e objectivos políticos.

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O “Público” e a sua nova Direcção (ou será “direção?)

Os colunistas e o novo acordo ortográfico

O jornal continuará a publicar textos de colunistas e convidados que seguem o novo acordo ortográfico.

José Manuel Barata-Feyo
17 de Setembro de 2022
«Uma das razões que levam o leitor Elysio Correia Ribeiro “a assinar e a ler diariamente o PÚBLICO é a de não ser agredido com o português (?) do ‘aborto’ ortográfico”. “Neste aspecto, o jornal é caso único – julgo – no confrangedor panorama da imprensa escrita que, sem ser a isso obrigada, correu a cumprir uma lei que, ainda por cima, foi adoptada à revelia do que ela própria afirmava (tinha de ser implementada por todos os países lusófonos) por uma classe política farisaica e ignorante, e contra a opinião de praticamente todos os que profissionalmente manejam a língua.”»

⊕⊕⊕

É um caso sui generis no panorama da imprensa portuguesa generalista de implantação nacional. Existem outros jornais que igualmente recusam a cacografia brasileira — como o “Novo” ou “O Diabo” ou o “Página Um” –, mas foi o “Público” aquele que há mais tempo declarou expressamente a sua determinação em continuar a ir para as bancas (e para a Internet) sempre redigido em Português; inclusivamente, e isto não é coisa pouca, dadas as óbvias implicações políticas da decisão, a Direcção lançou em 2015 a edição “Público – Brasil”, igualmente no «português escrito em Portugal».

Desde pelo menos 2011, sucederam-se naquele jornal os artigos denunciando o estropício, tanto de jornalistas “da casa” como de colaboradores ou colunistas externos e ainda um sem número de artigos de opinião dos autores mais diversos, de “figuras públicas” — representando, no seu conjunto, todo o espectro partidário — ao mais comum dos leitores — também transversalmente, de diversas origens, estatutos sociais e grau de escolaridade ou académico.

De entre todos os artigos ali publicados sobre o #AO90, a maioria dos quais foram aqui reproduzidos, merece especial destaque Nuno Pacheco, director adjunto e (evidentemente) membro do Conselho de Redacção do jornal; apenas deste autor, é possível contar 51 “posts” no site da ILCAO (12.09.200817.06.2015) e outros 82 aqui mesmo, no Apartado. Nota de relevo ainda para o comentador político Pacheco Pereira que, além de diversos textos sobre o assunto, cunhou a expressão porventura mais certeira e exacta para descrever a língua univérrssáu e suas consequências: «um Acordo Ortográfico que se pretende impor manu militari».

Pois agora o que se prefigura na Redacção do “Público”, num futuro bem mais imediato do que seria previsível há apenas alguns meses, é a mudança do Director. Com tudo aquilo que essa mudança poderá implicar, evidentemente. Para já, o que sabemos sobre as orientações redactoriais e, por consequência, a respeito do que poderá (ou não) vir a suceder quanto ao AO90, é que… não sabemos coisa nenhuma; sobre isso, pelo menos até ao momento, nem uma palavra. O que não costuma ser bom prenúncio; por definição, o silêncio precede algo de muito “barulhento”…

Bom, sejamos optimistas. Como se diz em brasileiro, pensámentu pôzitchivu

(Qui orrô, mi adisculpi, viu?)

Conviria, porém, mesmo tentando ver a coisa pelo lado bom, não dar uma de anjinhos. “Conteúdos editoriais” e “conteúdos comerciais”, especialmente quando concatenados ambos os termos na mesma frase, não aparenta de facto — nada, nada, nadinha — ser bom prenúncio. Em 2020, que se saiba — e pouco ou nada mais se soube sobre o assunto daí em diante –, o Governo, com um gesto magnânimo e extremamente generoso, espalhou 15 milhões pelas redacções e, principalmente, pelas “redações” de jornais, rádios e canais de TV; para pagar “publicidade institucional”, dizem.

Tais “ajudas”, depreende-se, irão somar-se à mesmíssima publicidade institucional que toca aos OCS de forma regular: éditos, avisos, alertas, concursos etc. Aliás, essa regularidade é uma das mais importantes fontes de financiamento no ramo, chegando em alguns casos a ser a única receita para além das vendas do produto jornalístico em si, em papel ou por meios digitais, neste caso com publicidade paga também pelo sector empresarial privado.

Bem vistas as coisas, assim como sucede quanto ao próprio acordo da língua brasileira, isto é tudo uma questão de dinheiro. O qual, como sabemos, não tem nem cor (bem, as notas de dólar, se calhar por serem verdes, gozam das preferências gerais) nem opinião nem credo e nem mesmo nacionalidade. Como dizia já não sei quem, “um escudo é um escudo”. Agora, o escudo até já nem tem cotação cambial, mas não faz mal, se não houver dólares pode ser em euros, ou em francos suíços, vá, no problem, isso troca-se numa data de offshores.

Não há-de ser nada. Fiemo-nos noutra coisa sem ser na virgem. Decerto o “Público”, onde é tudo boa rapaziada, estará, ao invés do que sucede com a maioria dos media tugas, imune a qualquer OPA governamental. O que significará, por conseguinte, que poderemos continuar a ler aquilo em paz e sossego, sem conspurcações brasileirófonas.

Esperemos que ao menos desta vez haja um escrutínio realmente democrático e que naquela Redacção ninguém acabe a votar sozinho.

Casamento de novo director do Público com deputada do PS levanta reservas

Margarida Davim
revista “Sábado”, 10 de Abril de 2023
www.sabado.pt

Conselho de Redacção do Público deu parecer positivo ao nome de David Pontes para substituir Manuel Carvalho. Mas, em declaração de voto, duas jornalistas defendem que preocupação quanto às fronteiras entre conteúdos editoriais e comerciais e casamento com socialista deviam ser “motivo para dar um parecer negativo à indicação” do novo director.

O jornal Público já tem novo director indigitado. David Pontes sucederá a Manuel Carvalho quando, a 1 de Junho, este sair da direcção do diário da Sonae. O nome escolhido pela administração teve o parecer positivo do Conselho de Redacção. Mas os jornalistas que compõem este órgão deixaram, nesse texto, claras as reservas que Pontes lhes suscita.

Uma das preocupações dos jornalistas do Público é a de que esta nomeação não dê garantias de uma separação entre os conteúdos editoriais e os comerciais.

“Atendendo à natureza das funções recentemente desempenhadas por David Pontes nesta e noutras empresas de comunicação social, o CR entende, porém, ser imperioso sublinhar que o novo director deve garantir e zelar por uma clara distinção entre as esferas editorial e comercial e reforçar os mecanismos de transparência do jornal quanto aos conteúdos apoiados e aos conteúdos promovidos“, lê-se no parecer a que a SÁBADO teve acesso e que foi redigido já depois de Pontes ter respondido a um pedido de esclarecimentos a este órgão.

“A independência e o rigor informativo são os principais activos desta redacção e devem constituir prioridade para a nova direcção editorial, à qual compete a missão de preservar a marca Público, salvaguardando-a da dispersão e da descaracterização que podem advir da multiplicação de chancelas e projectos”, frisam o Conselho de Redacção.

Director deve abster-se de escrever sobre temas em que é “parte interessada”

Os membros do Conselho de Redacção alertam ainda para a necessidade de o novo director evitar conflitos de interesse nas matérias sobre as quais escreve, defendendo que “os jornalistas do Público, e por maioria de razão o seu director, devem inibir-se de escrever sobre questões em que possam ser considerados parte interessada e recomendam a esse respeito uma política de transparência perante os leitores”.

Em causa está o casamento de David Pontes com a deputada do PS Carla Sousa. De resto, este parecer tem uma declaração de voto assinada por duas jornalistas que entendem que esta circunstância e as dúvidas sobre a separação entre o que são conteúdos jornalísticos e conteúdos comerciais seriam por si só suficientes para o Conselho de Redacção chumbar o nome de Pontes.

“Subscrevemos as reservas apontadas pelos nossos colegas do CR, que partilhamos, mas, no nosso entender, estas são motivo para dar um parecer negativo à indicação de David Pontes para novo director do Público”, escrevem numa declaração de voto, na qual expressam preocupação pela “frágil delimitação das fronteiras entre os conteúdos editoriais e os conteúdos apoiados, a qual ameaça os princípios fundadores do Público e retira o foco do jornalismo a que nos devemos dedicar”.

A declaração de voto defende ainda que, sendo David Pontes casado com uma deputada do PS, é “inadequado que não considere que se deva abster de fazer comentário político, evitando assim a suspeição sobre óbvios conflitos de interesses”.
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